terça-feira, 4 de maio de 2010

(Im)possibilidades

Vou vestir a roupa nova, vou ao mar! Se tanto, encontro a multidão. Quero estar sozinha, vazia de amigos e intenções, de família e de amores. Quero estar repleta de mim. Em algum lugar nessa areia toda pretendo encontrar-me, nem que seja preciso cavar profundamente!

Do buraco que faço na areia, à procura de mim, mina água salgada e sonho. Não posso emergir, só mergulhar cada vez mais fundo, em busca do segredo que fiz de mim mesma. Este segredo é também meu presente ao mundo. Segredo na água salgada é pérola, doença de ostra, jóia rara para nós, os mortais. Se porventura tiver valor para os deuses, talvez eles a recolham...

Eu - a menina ostra.

Talvez fure algumas ondas. E mergulhe no oceano, com nunca antes. Quero me distanciar da praia, ficar em silêncio, ser tragada pelo oceano e tornar-me parte sua. Deixar-me ficar, flutuando sem pressa, até que os tentáculos do Kraken me envolvam e eu encontre o fim dos meus dias. Se nunca mais retornar à costa, meus compatriotas talvez percebam a ausência de algo, e passem a questionar: o quê?

Eu - a mulher invisível.

E, no final das contas, descobrirei o que já sei: que o meu tesouro é só meu, só a mim interessa riqueza que eu penso trazer aqui dentro, que já se passou muito tempo nessa existência sem que a totalidade do que eu sou fosse descoberta por alguém. E que provavelmente eu sou só uma pseudo pessoa, envolta na minha solidão, entregue à certeza de minha desimportância. Não totalmente real, mais um fantasma que um vivente de verdade. E talvez todos já tenham percebido que sou uma fraude, e seja por isso que vivo tão ao largo, tão separada de tudo, de todos. E a verdade é que já fui engolida pelo Kraken, e o Kraken é a realidade - e é também o portal para um outro lugar. Um lugar onde eu sou.

Eu - uma in(ade)equação de mim.


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