terça-feira, 18 de maio de 2010

Aconteceu no consultório (parte 2)

Chegou mais cedo, e ele já estava lá.

-Não disse que não me atrasaria dessa vez?
-É, você disse.
-Sofreu muito esse fim de semana?
-Nem um pouco... Aliás, se a Renata não tivesse ligado ontem eu talvez até me esquecesse do tratamento!
-Eu é que não posso - nem consigo - esquecer de você.

Sorriram - e ela rumou para o consultório. Na verdade estava aflita, mas preferia pensar que era devido ao medo irracional que sentia de sentar-se na cadeira odontológica. No fundo ela sabia que era por causa dele. Aquele homem tinha a capacidade de deixá-la ao mesmo tempo desconfortável e excitada.

A atitude impulsiva dela, de dirigir-se direto para a sala de atendimento tinha sido inesperada para ele. Ele imaginava que ela já tivesse baixado a guarda e fosse se comportar menos na defensiva daquela vez. A verdade era que ela o deixava perturbado: muito séria, muito linda, muito inteligente. No fundo, era o muito inteligente que tornava a mistura muito atraente e perigosa para ele. Aquela mulher era algo de especial, e ele sabia disso desde que pusera os olhos nela, há uma semana daquele momento. E ela ainda provocava uma perturbação na superfície dele. Ele mal conseguia manter a compostura - era um esforço, contudo, necessário.

-Pronta?
-Eu já nasci pronta, doutor.
-Então vamos ao assassinato!
-O quê?
-O assassinato do último nervo, lembra?
-Ah... Acho que me distraí. - ela estivera olhando para ele de soslaio, enquanto preparava os apetrechos de trabalho. "E ele é mesmo uma delícia..." Para encaminhar a conversa, perguntou:

-Por que a Renata não fica aqui, no seu horário de trabalho? Eu pensei que ela fosse também sua assistente.
-Ah, não, a Renata não trabalha comigo por causa dos meus horários... Ela está estudando à noite. Terminando o curso técnico. Acho que é instrumentação cirúrgica...
-É, é sim. Conversei com ela da última consulta com o Emerson. Mas achei que o consultório de odonto servisse como estágio, ou algo do tipo.
-Talvez sim. Mas ela precisa ir às aulas.

Com um meneio da cabeça, pediu-lhe que abrisse a boca. Ela obedeceu prontamente. A anestesia local, depois a pontada sutil - e lá se foi sua mímica facial. E ele trabalhou mais uma vez, sem distrair-se, e mais uma vez ela dormiu. Dessa vez, à analgesia seguiu-se um sono conturbado, durante o qual ela sonhou...

Estava deitada naquela cadeira do consultório, e não conseguia mover-se. E ele a estava despindo, abrindo os botões de seu vestido lentamente, tocando seus seios por cima do sutiã, seu sexo por cima da calcinha de algodão modelito vovó que ela estava usando. E ela queria gritar "que merda, logo hoje eu fui colocar essa calcinha feiosa!" E ele sorria, e olhava para ela, e a acariciava sem reservas, e logo começava a beijá-la e a masturbá-la, e...

-Ahn?!
-Terminamos por hoje, Marion.

Ela estava sobressaltada! Tinha acordado com um orgasmo intenso - será que ele podia perceber? Ela sabia que nada daquilo tinha sido real - a roupa que estava usando não era a do sonho, e ele não teria conseguido despí-la sem ajuda - mas a excitação e o orgasmo estavam ali, presentes como se, ao invés de um tratamento endodôntico de canal tivessem transado por toda aquela hora.

-Você é uma dorminhoca! - Ele tentou gracejar. Percebeu que ela estava um tanto perturbada, e olhava para ele meio assustada, ruborizada e envergonhada ao mesmo tempo. "Será que ela consegue perceber o que se passa na minha cabeça, enquanto ela está aqui, dormindo nessa cadeira, sob o efeito desse anestésico?"
-É, parece que sim - ela respondeu, meio sem jeito. Ainda não conseguia olhar para ele.
-Semana que vem a gente finaliza, e então você pode marcar a consulta do Emerson, ok?
-Certo, certo... Posso usar o toilete antes de sair?
-Claro!

Ela estava totalmente molhada, e era a prova de que tinha tido o primeiro sonho erótico realista em anos. Estrelando, doutor Ronaldo...

(to be continued...)

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