quarta-feira, 9 de abril de 2014

Feira livre

O feirante é um gigante. Tem, no mínimo, um metro e noventa! Toda quarta-feira é dia de tentação: ele fica lá, no meio da feira, fazendo uns malabarismos hipnóticos com as frutas que comercializa na sua barraca, e eu venho olhando, atraída como uma mariposa para o lampião. Ele me encara direto, um sorriso aberto, de dentes brancos e grandes, e eu sempre desvio o olhar quando chego bem pertinho: olho para o chão, sem nem bem saber por quê. Sou dessas que evitam a tentação, sempre que possível!

Sempre que possível.

Hoje não deu. Acho que eu estava mais suscetível, ou foi o calor do dia, a luz da manhã... a gente arruma desculpa fácil, é só ter um pouco de imaginação. A verdade é que isso era uma questão de tempo. E tempo, hoje, eu tinha. E a vontade... bem, a vontade eu tenho desde sempre, desde que botei os olhos nesse homem pela primeira vez, há três anos, quando me mudei para esse endereço. Deixa eu contar o que aconteceu, parar de enrolar a audiência e de arranjar subterfúgios...

O meu roteiro na feira é sempre igual: eu chego pela peixaria, escolho o que vou levar para o almoço e peço ao rapaz que pese enquanto eu vou olhar o restante da feira. Normalmente isso significa dar uma volta, pesquisar os preços e resolver onde vou comprar as verduras, legumes e frutas da semana. O único lugar que não varia é a peixaria, mas os outros barraqueiros não tem a minha preferência, não. A não ser o deus das frutas... Garota, que homem é aquele? Sabe quando o cara não é exatamente sarado, mas é tudo de bom? Então... braços fortes, umas coxas grossas e uma barriguinha mínima, mas que dá o tom da humanidade ao sujeito: sem a barriga, você olha e tem a certeza de estar de frente para uma divindade romana, ou um modelo de cueca, sei lá. O fato é que eu dou essa passeada pela feira só para ter pretexto de passar por ele duas vezes por semana. Normalmente é só aquela ceninha, parece até que rola ensaio, ele lá, se exibindo nos malabares vegetais e eu olhando, olhando, olhando... até desviar o olhar para os meus pés. E sair batida. Ele já tentou gracejar, já esperou eu falar alguma coisa, já fez que ia falar! E eu, só encarando a rasteirinha e passando batida, que me faltou coragem esses três anos. Nem uma frutinha eu comprei para puxar assunto, nem apalpei as maçãs, nem conferir as bananas. O jeito que ele me olha me deixa tímida como uma virgem vestal. Mas como tudo que vai, volta, eu passei por ele no roteiro de ida... e ele me segurou na volta. Simplesmente sumiu do lugar onde fica todas as quartas! E eu fiquei caçando o cara, nervosa de perder o espetáculo do feirante... e ele se materializa na minha frente, bloqueando a passagem e me desconcertando de uma forma que me impede de fazer a minha cena. 

− Bom dia, freguesa! Não vai nem dar uma olhadinha nas frutas hoje? − fico estática, sem saber o que fazer, por uns bons 5 segundos, queixo caído, cara de abobalhada... e respondo:
− Bom dia... eu ainda não decidi... o carrinho vai ficar pesado...
− Ah, mas isso não é problema! Eu levo para você! Moça bonita não carrega peso!

Sem escolha, me aproximo da barraca de frutas que ele comanda. Nunca tinha reparado que, além dele, mais dois caras trabalham ali. E nem repararia jamais. Eles devem ser irmãos, mas o meu feirante destoa! Realmente, as mercadorias que ele tem para vender são bem superiores que as das outras barracas, mas eu não sou luxenta, e sempre dá para garimpar coisas boas por um pouco menos de dinheiro... mas de hoje não passo, e então escolho automaticamente algumas peras e maçãs, e ele oferece mais uns caquis, que eu acho por bem levar, mais para me desembaraçar daquela saia justa logo de manhã. Quando termina a seleção, tenho tantas frutas no carrinho que vai ser difícil consumir em uma semana... puxo a carteira e já estou pagando a despesa, muito mais grana do que eu esperava gastar na feira inteira, quando ele insiste em me dar um bom desconto. Olho surpresa para ele, que sorri para mim e diz, ao pé do meu ouvido:

− Se eu trabalhasse só, você levava tudo de graça, só pelo gosto de te ver de perto...

Garota, gelei. Gelei de uma forma que eu nem sabia mais onde eu estava, nem o que eu tinha que fazer depois! Ele percebeu o meu estado, sorriu de novo e disse, dessa vez em voz alta:

− Você vai buscar alguma coisa no peixe, boneca? − o safado presta a maior atenção no meu roteiro... de qualquer forma, me situo rapidamente e respondo.
− É, deixei pesando...
− Eu acompanho você. O carrinho ficou pesado, e eu prometi que levava pra você.
− Ah, não precisa... 
− Precisa, sim. Eu sou um homem de palavra.

Nós dois rimos: eu, de nervoso; ele, confiante. Sinto que tem alguma coisa acontecendo que eu não estou captando, como se eu fosse personagem na história dos outros... tadinho. "Queridinho", pensei, "a escritora aqui sou eu, a história é minha, e eu sou protagonista nessa novela!" Organizo meus pensamentos, e enquanto ele me acompanha eu já estou refeita. Entabulo uma conversa engraçadinha com o peixeiro, que é um coroa bonachão e muito bem humorado. Gosto de conversar com ele, acho seus comentários inteligentes, e é por isso que ele tem a minha preferência. O feirante fica olhando, prestando atenção na conversa. O peixeiro vira para ele e pergunta:

− Vai escoltar a moça para casa, Denilson?
− É, prometi, seu Evaldo! Ela tá levando muito peso, é até judiação uma moça linda dessa carregar tanto peso...
− Pois é, eu sempre digo a ela que isso é trabalho para homem, mas essa moça é feminista, sabe como é...
− Pois eu acho até bom, sabe? São umas mulheres muito mais interessantes! − os dois ali, assuntando a minha pessoa, e eu escutando!
− Olha só, pessoal, o papo tá muito bom, mas chega de me colocar na berlinda, ok? Denilson, a gente vai andar um bocado, ok? É na rua de trás. Tchau, seu Evaldo! Boa semana para o senhor!
− Até pra semana, dona Suzana! − eu gosto tanto desse coroa que até o trocadilho dele me agrada! Toda semana essa rima boba, e toda semana me arranca um sorriso...

Seguimos em silêncio por alguns metros, até sumirmos das vistas do pessoal da feira. Quando a distância é segura, ele entabula uma conversinha:

− Até que enfim você parou na minha banca, boneca! Achei que nunca eu ia conseguir trocar duas palavras com você na vida!
− Ah, é? – faço a espantada. − Não imaginava que você me acompanhasse assim, com tanta atenção...
− Para com isso, garota. Você me saca e eu te saco, e tem um tempão isso. Eu juro que já até assuntei por ali se você era casada, recatada, freira... essas coisas, porque vou te contar, que mulher encabulada dos diabos, você!

Nessa hora a gente deu umas boas gargalhadas, ele relaxou um pouco a pressão e começamos a conversar mais à vontade:

− Mas me fala: por que você queria tanto que eu parasse na tua banca? Vai dizer que eu sou a única mulher que passa naquela feira e fica te olhando?
− Não. Mas é a única que me interessa.

Ele me deixa sem fala, e é uma coisa boa, porque a gente já está chegando no meu prédio, e o porteiro está no jardim da frente, de papo com a maior fofoqueira da terceira idade que eu já conheci! “Que se danem!”, eu penso de cara. Não devo nada a ninguém, sou solteira, livre e independente, pago meus impostos e a taxa do condomínio! O que eu faço da minha vida é problema meu e só meu! Como ele não sabe disso, fica empacado no portão de entrada.

− É por aqui, Denilson. – e para os dois de paus que pararam de conversar para me ver entrando com o Apolo das frutas – Bom dia, dona Eulália! Bom dia, Osvaldo! – como os dois respondem entre dentes, sigo em frente pela entrada de serviço, e aperto o botão do elevador. A situação constrange o rapaz, e agora eu fico sem saber o que dizer. Entramos no elevador e o silêncio me deixa desconfortável, mas não tem jeito, agora ele vai puxar o carrinho até a minha cozinha... eu nunca tinha reparado como esse elevador é lerdo, pelamor! Saímos para o corredor, eu abro a porta e ele entra na minha frente. Eu encosto a porta, e já estou agradecendo, enquanto pego uns trocados para gratificar o homem, quando percebo que ele foi até a porta e passou a chave nela. Estamos nós dois sozinhos na minha casa: eu e o gigante da feira.

Ele não perde a chance: me enlaça pela cintura com um braço, segura o meu rosto com a outra mão, levanta o meu queixo e me tasca um beijo molhado, delicioso. Ele é tão rápido nessa manobra que eu fico de pernas bambas, sem saber o que está acontecendo. Quando o beijo acaba, ele dispara:

− Acho que eu ia explodir se não beijasse você.
− Menino, que louco isso! Eu achei que você ia embora do jeito que chegou.
− Ah, mas não mesmo. Agora eu só vou embora quando você me mandar.
− Então é melhor os teus irmãos serem capazes de dar conta daquela banca de frutas sozinhos... você vai demorar um bocado aqui.

Pego sua mão direita e o conduzo até a sala, sento no sofá e o convido a sentar do meu lado. Ele me atende prontamente, e já me agarra de novo. Dessa vez, o beijo vem acompanhado da devida apalpação. O cara não podia ser assim tão gato à toa! Além de ser lindo, entende do riscado. Ele explora o meu corpo todo com as mãos espalmadas, sem pressa e sem muita pressão, mas eu consigo sentir a força daquelas mãos enormes enquanto elas tocam meus seios, minhas coxas, minha barriga. Ele levanta a minha saia e segura meu bumbum, apertando firme.

− Você é toda deliciosa... eu adoro sentir você com as mãos... tá ficando aflita? – eu respondo a pergunta dele sentando no seu colo, pegando sua mão e colocando sobre o fundo da minha calcinha.
− O que você acha? – ele afasta o tecido e toca a minha buceta, deslizando as pontas dos dedos devagarinho e sentindo o quanto aquele amasso tinha me deixado excitada.
– Eu acho que tirei a sorte grande! Eu tô de olho em você há tanto tempo, menina, que agora vou aproveitar essa sorte com muita calma...

Ele diz isso, e revira os olhos: estou apalpando o pau dele por cima da calça, e não sei se ele vai se aguentar, de tão duro que está! Eu abro o zíper dos jeans dele e o pau salta para fora: eu já tinha percebido que ele estava sem cuecas, e essa confirmação me deixa louca de desejo. Começo a punhetar aquela piroca linda sem pressa, e ele continua me tocando de leve, enquanto nos beijamos. Ele tem uma língua macia, doce e quente, que me faz imaginar coisas, e me toca suavemente, mas sabe direitinho o que está fazendo, e eu sinto que vou gozar... não consigo manter o ritmo da punheta, e ele para de me beijar para olhar para mim enquanto eu gozo. Ele me pede para abrir os olhos e olhar para ele. Ele gosta de ver o que acontece na hora do gozo, e eu deixo. Já fazia um tempão desde a última vez que eu gozei tão gostoso, e digo isso a ele. Ele então diz, com um sorriso safado na cara:

– Bem, eu espero que essa seja a primeira gozada do seu dia. A última vai depender só da sua hora...
– Eu tô de folga hoje, gato. Você tem todo o tempo que precisar. Eu só não sei se você se aguenta...

Ele ri e me ataca imediatamente. Nem tenho tempo de me posicionar para fazer um boquete nele, o cara me põe sentada e cai de boca em mim, me deixando sem opção de 69! E, como eu imaginei, aquela língua macia evolui que é uma beleza ali também. Eu gozo rápido, mas é um gozo tão intenso que me sacode inteira, e me deixa meio desnorteada. Aí ele me pega no colo (nossa, que homem forte! Isso me excita ainda mais, os braços dele sustentarem meu peso com tanta facilidade) e me põe no chão da sala, em cima do tapete. Só nessa hora eu tiro a camiseta e me livro da saia e da calcinha. Ele me deixa fazer isso enquanto tira a camiseta branca e se livra da calça jeans, revelando aquele corpo espetacular e humano. Ele não parece uma escultura, é um cara que você vê por aí, na feira livre. Mas é um deus, lindo e delicioso.

Ele fica me admirando, nua, deitada no chão onde ele me colocou. Ele está de joelhos na minha frente, entre as minhas pernas. O pau dele está tão duro, tão ereto... e ele mantém o controle. Me pergunta se eu tenho camisinha, diz que tudo bem se eu não tiver, que ele pode ficar na vontade. Esse homem não existe, e eu digo isso a ele. Faço que vou me levantar para buscar a borracha, e ele me impede, diz que pega, para eu dizer onde tem. Eu aponto para o banheiro, e ele vai até lá e volta já vestido. Acho lindo esse lance de me servir, é o que ele está fazendo. Normalmente eu tomo atitudes. Dessa vez, estou à mercê desse homem, e mesmo assim, ele está me servindo...

Ele se ajoelha novamente entre as minhas pernas, e dessa vez não faz cerimônia: ele se deita sobre o meu corpo e eu solto um gemido baixo e rouco quando sinto o pau dele invadindo a minha buceta, estocando fundo e com vontade. É um pau lindo, já te disse isso? Nossa, e como é grosso! Eu já tinha percebido isso, mas agora, ele dentro de mim, a sensação é maravilhosa. Ele geme junto comigo, e está se controlando. Sei que ele quer segurar o gozo, meter muito, por muito tempo, até me ver gozar de novo. Então eu sugiro que ele me deixe ficar por cima, só um pouquinho.

– Claro, minha boneca. Você pode tudo.

Ele se senta no chão, e eu sento em cima dele, controlando a velocidade e a profundidade da penetração, até encontrar um ritmo que é bom para nós dois. Ele está dando sinais de que está no limite, e então eu dou o tiro de misericórdia:
– Gato, vem comigo? Eu vou gozar de novo...

E aí ele me surpreende! Respira fundo, segura a onda e eu acabo gozando, perdendo o ritmo e deixando o corpo pender sobre ele. Aí ele me pede, bem baixinho:

– Agora fica de quatro, meu anjo. Eu vou me acabar em você do jeito que eu gosto...

Ele nem precisava pedir com tanto jeitinho, eu já estou à disposição dele mesmo: me ponho de quatro, empino o bumbum e deixo ele se divertir. Ele mete tão gostoso, a rola dele me preenche tão perfeitamente... eu gozo junto com ele, num cachorrinho de tirar o fôlego, ele envolve a minha cintura depois do gozo, e me faz deitar por baixo dele, sentindo o peso daquele homem grande, relaxado, depois do orgasmo. Sinto a sua respiração voltando ao normal, e ele tira o pau de dentro de mim sem me soltar.

– Posso ficar mais um pouquinho?
– Claro, lindo... você pode tudo.
– Mesmo?
– Claro que pode!
– Então me dá dez minutos? Eu quero te comer mais uma vez.

(O ministério da saúde adverte: uma dieta balanceada inclui frutas. Muitas frutas...)

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Chiado

O ruído inconveniente às quinze para as seis da manhã me acorda muito antes da hora. Irritadiça eu sempre sou, ainda mais numa situação como essa: o vizinho e o seu barbeador elétrico no apartamento do lado parecem estar ali, sentados do meu lado na cama, me oferecendo um café e perguntando se diabos eu dormi bem. Nem o gato acordou ainda, e eu, que trabalhei até às três essa madrugada estou aqui, ouvindo o cara fazer a barba enquanto o rádio dá as primeiras notícias do dia. Fala sério, que porra de engomadinho é esse filho da puta que me acorda a essa hora como se tivesse o direito! Não tem o tal do horário de silêncio, não? Engraçado isso: se você é notívago, e não importa o horário que resolve teus trampos, os vizinhos se incomodam com as suas luzes acesas até altas horas, e se você precisa de inspiração, nada de rock'n'roll, nem baixinho! Te vira num fone! Já teve uma vaca, a cretina do 703, que até reclamou com o síndico do cheiro de café que vem da minha cozinha na madruga, diz que atrapalha o sono dela, e eu nem café mais posso fazer de janela aberta! Enfim, o fato é que o mauricinho está se barbeando com essa porra elétrica dele, escutando CBN, que ninguém merece, e se eu for reclamar, nego ainda me joga na cara que é horário de sair para o trabalho, que é normal as pessoas estarem se arrumando essa hora. Normal.

Normal é o Capeta atentar a pessoa a qualquer custo, tirando a sua paz numa terça de manhã. E como eu fiquei inquieta, resolvi também que, se o Capeta atenta aqui, há de atentar lá. O mauricinho fica me olhando de soslaio no elevador, todo dia com aquela cara de não comeu mas bem que gostou... ele pode até ter acordado cedo, mas vai se atrasar hoje...

Pulo da cama, vou lavar o rosto e escovar os dentes e decido tomar uma chuveirada rápida. Passo um óleo perfumado no corpo todo, coloco um baby doll mínimo e vou espreitar o cara do olho mágico. Ele mete a chave na porta e sai para o corredor, aperta o botão do elevador e eu dou um gritinho assustado, do lado de dentro de casa. Ele fica alerta, eu percebo que está curioso e apreensivo. Vai ser moleza!

 Socorro!  eu grito de novo, cá de dentro. Ouço seus passos enquanto se aproxima da porta da frente, ele bate de leve e pergunta:
 Tá tudo bem aí, vizinha?  abro a porta de repente, ele está com o ouvido colado na porta e desequilibra.
 Ai, me desculpa... É que tem uma aranha enorme na minha cozinha... Você me ajuda com isso? Tenho pânico de aranhas! percebo que ele fica dividido entre a necessidade de dar de macho e impressionar a vizinha gostosa e a hora de chegar ao trabalho.
 Não quero te atrapalhar, desculpe... você deve estar indo para o trabalho...
 Não, não! Imagina, é coisa rápida. Eu te ajudo com isso em dois tempos, e ainda chego antes da hora!  ele se gaba, todo-todo. Pato. Patinho. Vai se atrasar e é muita coisa...
 Ah, obrigada! Nem sei como esse bicho horrível veio parar aqui dentro...

Ele entra na cozinha resoluto, me pergunta onde eu vi a aranha. Eu aponto a pia, ele se aproxima e não vê nada. Eu chego bem perto, olhando na cara dele antes de olhar para a pia, e percebo a deixa: o queixo dele caído, os olhos dentro do decote mais que generoso do baby doll: no movimento, o peitinho direito pula para fora, toda vez isso acontece, e o cara nem consegue piscar, hipnotizado que está. Então, eu manobro o corpo para ficar entre ele e a pia, de forma que a minha bunda roça o volume do pau dele, dentro da calça. Pronto, está feito. Só mais um pouquinho de charme agora...

 Nossa, acho que só de você entrar aqui já assustou a aranha e ela fugiu rapidinho. Também, um homem desse, tira o sono de qualquer vizinha, a pobrezinha da aranha não teria a menor chance...  ele fica embasbacado, e eu não dou-lhe tempo para sair da situação: viro de frente para ele e sapeco um beijo de língua, daqueles bem molhados, que fazem molhar outras partes da anatomia da pessoa. O cara nem sabe o que está lhe acontecendo. Meto a mão por entre os botões da camisa branca e desabotoo só uns três, mas faço espaço para acariciar seu peito, caço o mamilo e ele não perde tempo! Com a mão esquerda segura o peitinho que pulou para fora, e com a direita abre o cinto e desabotoa a calça. A gente se entende num instante.

 Acho que você vai ficar meio amassado...
 Não esquenta, de onde eu tirei essas roupas tem outras passadas também.

Um sorriso sacana resolve a parada, e ele me puxa para cima, vira o corpo e me senta na bancada da pia. Aproveito para meter a mão dentro da cueca e descubro, para a minha total felicidade, que o mauricinho tem um pauzão muito digno! A minha cara de surpresa e gratidão arranca dele uma risadinha safada e o pau pulsa na palma da minha mão.

 Você não imaginava que o apartamento do lado também podia funcionar como playground, né?  adoro o jeito como esse mauricinho fala essas coisas, como se por detrás daquela beca engomadinha se escondesse um tremendo putão... começo a gostar tanto que quase esqueço que isso aqui pode até ser uma foda, mas é também uma vingança: vingança contra o maldito barbeador elétrico e a porra da CBN! Se eu perder o foco, vou me empolgar rápido demais, ele nem vai ter trabalho e não vai se atrasar nadinha! Não, não mesmo. First things first:

 Me fala uma coisa, vizinho: por que é que homem acha que basta ter um pauzão que está tudo garantido? Deixa eu te falar uma coisa: aqui, pauzão e piruzinho trabalham igual. Não dou vantagem nem lambuja! Vai ter que suar a camisa para garantir o replay...
 Nossa, mas assim você me desafia! Tá duvidando que eu entenda do riscado?  nessa hora eu quase amarelo, me dá um dois tempos, fico meio com medo de intimidar demais e sei lá, brochar o cara... mas quer saber, ele é bem competitivo. Então eu arrisco:
 É, estou sim!

Ah, é a deixa! O cara fica pilhado e decide me virar do avesso. Eu não vou reclamar de mais nada, que começa um rala e rola delicioso, as mãos dele hábeis estimulando a minha pele inteira, eriçando os meus pêlos e me deixando excitada além da conta. Eu acabo de desabotoar sua camisa e ele se livra dela em um segundo. Abre a torneira da pia e molha as mãos na água gelada, me provocando os arrepios mais alucinados por todo o corpo, e eu nem sei como mas já estou nua! Ele dá um passo atrás, para se livrar da calça e das meias, e fica me olhando.

 Sabe que você é ainda mais gostosa do que parece? Olha que eu te saco faz um tempão, e já toquei foi punheta para você, vizinha, mas não podia imaginar isso tudo! Que delicinha, você...

E lá vem ele, cheio de vontade... como é que pode uma vingancinha cretina como eu virar uma foda histórica? Pois é, o Capeta atenta sabendo o que faz! E eu, que estou acostumada a desconcertar os carinhas, fico aqui com essa cara de boba, ouvindo um elogio desse logo cedo, muito antes da hora do gato acordar... Deus abençoe o barbeador elétrico! Ele passa as mãos por baixo da minha bunda e alcança a boceta com a ponta dos dedos... desliza pelos lábios e toca o clitóris antes de ir fundo. Nessa manobra eu quase-quase, ele percebe e dá risada:

 Tá vendo, pode me dar trabalho, que eu gosto pacas... só de sacanagem, vou te fazer gozar umas três vezes antes de te encher de porra... e você vai gostar tanto que vai virar minha comidinha...
 Ah, queridinho, não se engane! Esse é o tipo de foda preguiça que eu estou querendo, então seremos comidinha um do outro...  os olhos dele brilham quando ele entende que aquilo pode muito bem se repetir ainda hoje de noite, quando ele voltar do trabalho. Dá para sacar que ele está cansado de masturbação!
 Um cara com uma habilidade dessa se acabando na punheta... que desperdício. Nunca mais, ouviu? Nunca mais você vai desperdiçar ereção enquanto eu estiver disponível, ok? Ficou de pau duro, bate na minha porta e pede açúcar, que eu te encho de mel, seu puto!

Ele pira e me pega no colo. Me leva até o sofá e me bota de quatro. Eu fico achando que vou levar pica e ele começa a me lamber como um gatinho! Que delícia... Eu começo a ficar impaciente e peço que ele me coma de uma vez. Ele tira a cara de lá e responde:

 Mas eu estou te comendo... você ainda precisa gozar gostoso antes de levar a rola que merece, minha gatinha safada...  e enfia a cara lá de novo, não me aguento e estremeço inteira, sem nem disfarçar a intensidade do orgasmo. Ele fica todo orgulhoso, lambuzado como está, sabe que está mais que agradando, e mesmo assim não desiste! Quer provocar uma impressão incrível, né? Conseguiu. Ele me abraça forte, me senta no seu colo e eu sinto aquele pau tão duro entre as minhas coxas. Ele sorri e me pede uma camisinha. Levanto do seu colo, pego sua mão direita e o levo até o meu quarto, onde fica o estoque, na gaveta do criado mudo. Abro a gaveta e pego a primeira que vem, é extra grande e ele ri, me pergunta se estou sempre preparada. Eu nem respondo, abro a camisinha e visto aquele filhote enorme rapidinho.

 Estou querendo te cavalgar...  ele senta na beirada da cama e me chama.
 Senta aqui, minha amazona. A rola está prontinha para você.

Tenho que admitir que a sensação é ainda melhor do que eu imaginava, eu sinto que vem outro gozo logo logo, e dou risada. Ele me pergunta se pode deixar rolar, e eu só balanço a cabeça afirmativamente. Intensifico o ritmo do galope, sincronizo com a respiração dele. Pode até ser um putão, mas eu também tenho minhas manhas... Ele vibra, o pau pulsa e eu sinto os espasmos que anunciam seu gozo. Aí me solto e deixo que as ondas de tensão percorram minha coluna e me vem uma sequencia múltipla que me sacode inteira. Finco as unhas nas costas dele, ele me envolve com força em seus braços e a gente fica ali, embolados, uns bons minutos. O suor escorre. Ele dá uma gargalhada, e eu fico sem entender nada.

 O que foi?
 Ah, gata, eu tinha uma reunião super importante hoje, acordei mais cedo que o normal, fiquei até bolado pensando que podia estar te incomodando, sei lá, o barbeador faz um barulho escroto... ai, perco a hora de qualquer jeito... Pelo menos, tenho que admitir: foi uma senhora foda!  fico meio sem jeito, e ele fica achando que é por causa do elogio... tadinho, eu toda mal intencionada, com raiva do barbeador elétrico dele, e ele preocupado em não me incomodar... ah, quer saber? ninguém perdeu nada aqui. Eu perdi o sono, ele perdeu a hora, e nós dois ganhamos muito mais. Deixo a sombra passar e pergunto:
 Vem tomar uma chuveirada comigo? Quem sabe você ainda chega a tempo?

A gente se ensaboa e a coisa pega fogo! É um tal de mão aqui, mão ali, e rola uma rapidinha sensacional. Esse era o gozo que faltava, e me bate o soninho que eu queria recuperar. Ele se enxuga apressado, veste as roupas meio amarrotadas sem muita preocupação. Eu me enrolo na toalha e vou até a cozinha enquanto ele se arruma, passo um café para ele e fico olhando ele tomar, sem me mexer. Ele sorri para mim, bebendo o café, e deixa a xícara sobre a bancada antes de vir na minha direção. Me dá um beijo na testa, achamos graça e ele me beija na boca. Acompanho essa incrível surpresa até a porta, esse vizinho mauricinho que calhou de ser uma foda fantástica. Ele me beija de novo. Abro e ele sai para o corredor, olhando para mim enquanto chama o elevador. Quando chega, ele abre a porta e quebra o silêncio:

 Me fala o teu nome?
 Renata. O seu?
 Maurício. (Credo, como é que eu ia saber?)
 Foi um prazer, Maurício...
 O prazer foi todo meu. Quer sair para jantar hoje?
 Não... Traz alguma coisa para a gente comer. Eu tenho vinho.

E ele ri alto e me deseja um bom dia. Ele sabe que vai ser bom...

Volto para a cama, me enrosco nos lençóis e afofo os travesseiros. Está quase na hora do gato acordar. Deixo a porta entreaberta para que ele possa entrar, se quiser. Ele vai tentar, sempre tenta. Mas nada me acorda hoje.

A não ser a campainha, mais tarde. Eu posso não saber o que vai ter para jantar, mas com certeza sei qual será a sobremesa...


terça-feira, 1 de abril de 2014

Espiando da janela

A vida cotidiana é uma correria, e às vezes a gente se distrai. Numa dessas distrações essa história que eu vou contar me aconteceu. Não vou reclamar, não...
Eu já tinha levantado mais cedo, levado as crianças para a escola e ido rapidinho ao mercado para comprar umas coisinhas que faltavam. Cheguei em casa correndo, organizei as compras e fui tomar um banho rápido, para não perder a hora do trabalho. Na pressa, me esqueci de fechar as cortinas do quarto, onde eu ia me arrumar depois do banho, mas eu moro no 8º andar, e não me preocupo muito em ser vista. Saí do banheiro nua e fui me arrumar no quarto, terminando ainda de me secar no caminho. Eu passei hidratante no corpo, vesti a calcinha e, quando já estava fechando o sutiã, olhei para a janela – e dei de cara com um homem me olhando.
Com o pau na mão.
O que me escapou foi que o prédio onde moro estava passando por uma reforma na fachada, e o andaime estava pendurado justamente na minha coluna! O cara, um tremendo negão, todo forte e suado, estava fazendo o trabalho dele e deu aquela sorte logo de manhã cedo: uma mulher desavisada, se exibindo sem perceber. O lance é que o cara se empolgou mesmo, e na hora que eu o notei, ele já estava manuseando o instrumento, tocando uma bem animada para a minha pessoa!
No primeiro momento a minha vontade era de sumir, mas foi me dando um calor... aquele pauzão maravilhoso, grosso, e bem envergado ali, todo durão para mim... ao invés de me inibir, aquilo me deixou super excitada. Olhei para o sujeito, que estava sem saber o que fazer, o pau na mão e paralisado – e dei um sorrisinho bem safado. Na hora o cara relaxou, e ficou me olhando, esperando o que eu ia fazer a seguir. Então eu desci a alça esquerda do sutiã, exibindo o bico do peito para ele, que já estava bem durinho de tesão. O cara recomeçou a punheta no ato, lambendo os lábios e respirando fundo. Eu cheguei para perto da janela e fui abaixando a outra alça, deixando os dois peitos para fora bem pertinho dele. A essa altura o cara não sabia se pegava nos peitos ou se continuava punhetando o pauzão, e eu puxei o assunto:
– Bom dia, tudo bem?
– Nossa, tá tudo ótimo, sim senhora...
– Então... tá gostando do privê? – nessa hora ele riu, meio nervoso.
– Tô sim, ô se tô...
– Quer pegar neles? Fui falando, muito da oferecida. Ele nem me esperou insistir: esticou a mão esquerda e ficou me bolinando os peitos, ora o esquerdo, ora o direito. A mão direita não largava o pau, mas o ritmo diminuiu. Ele resolveu aproveitar o momento, e eu entrei na onda.
– Sabe que essa bolinação toda está me deixando muito molhadinha?
– É mesmo? Ele perguntou, com um risinho sem vergonha no canto da boca.
– É, é sim. Deixa só eu te mostrar...
Deitei na cama, abri as pernas e afastei o fundo da calcinha, colocando à mostra a minha bucetinha rosa, depilada e muito molhada. Como a cama fica debaixo da janela, a visão do cara era perfeita. Ele ficou transtornado! Percebi o tesão que ele estava sentindo, e aquilo me deu uma volúpia tão forte que eu comecei a me tocar, acompanhando o ritmo da punheta dele... eu arfava de tesão na cama, apalpando com a mão livre os meus peitos, e ele ali, punhetando aquela pau lindo, que já estava quase explodindo de gozo. Ele me avisou que ia gozar, e eu pedi para ele mirar em mim, ali da janela mesmo. E na hora que ele esporrou, eu estava sentada na cama, com a cara no caminho daquele jato de leite quente. Ele deu um urro de tesão, tão alto que eu pensei que ia aparecer gente nas janelas dos vizinhos! Por sorte ninguém pôs a cara na janela, imagina só o espetáculo que eles iam assistir!
Depois de recuperado, ele me perguntou:
– Ficou na vontade, meu amor?
– É, não deu tempo...
– Então chega aqui mais pertinho... ele disse, colocando aquela mão para dentro da minha janela, me pedindo a buceta com os dedos. Foi irresistível! Fiquei de joelhos na beirada da cama e encostei no peitoril da janela, deixando a xana na altura da mão dele. Sem perder tempo, ele tocou a pele úmida dos lábios e encontrou o clitóris entre eles, começando a massageá-lo lentamente, prestando atenção na minha respiração... nossa, ele é profissional, viu? Em poucos minutos era eu que estava gozando como uma louca, e gemendo com vontade. Quando comecei a gritar, ele me tapou a boca com a outra mão e fez pressão no grelo com os três dedos no meio, liberando uma descarga elétrica por todo o meu corpo que me fez cambalear e cair sentada na cama, doida de prazer. Olhei para ele e vi que já estava ficando animado de novo, os dedos na boca provando o meu gosto. Aquilo me deixou tão alucinada... nem pensei duas vezes:
– Olha só, porque você não avisa ao encarregado que vai ter que olhar o serviço da minha janela por dentro, hein? Eu tô sozinha aqui, o que você me diz?
– Eu não preciso avisar a ele nada não. Posso entrar?
Então eu cheguei para trás e abri a janela toda. Ele passou as pernas para dentro, e pisou na minha cama com aquelas botinas sujas de trabalho. Foi abrindo o resto da roupa, exibindo aquele corpo incrível que nunca viu academia, aperfeiçoado pelo trabalho braçal, e aquele caralho já estava pronto para jogo, tão duro que apontava para o céu! Eu só tive tempo de chegar para trás, ele veio direto me chupar, a língua passeando assanhada pelas dobras da minha buceta e caprichando no grelinho, uma loucura! Eu peguei na cabeça dele e puxei pelos cabelos, fazendo ele me olhar nos olhos só para pedir para ele botar o cacete na minha cara. Ele se virou de lado e a gente começou um 69 genial, que só parou porque ele pediu, gemendo alto e dizendo que ia encher a minha boca de porra de continuasse. Quando eu disse para ele gozar, ele deu uma risada, veio por cima de mim e me deu um tapinha na bunda, daqueles estalados, que mais ardem do que doem, sabe? Ele me disse que não ia perder a oportunidade de meter aquela vara em mim, que não ia gozar antes disso. Eu levantei para pegar uma camisinha no armário, e ele colocou rápido, me puxou para baixo do seu corpo e meteu tudinho, sem dó! Nossa, que cacete sensacional! A cada estocada eu sentia os orgasmos chegando, numa sequencia perfeita que me deixou delirante e exausta, e ele deixou sua porra jorrar mais uma vez, tirando o pau de dentro de mim quando percebeu que eu já tinha gozado bem e bastante, e derramando seu leite sobre a minha barriga. Depois, ele saiu de cima de mim e veio mamar os meus peitos, dizendo que queria virar neném de novo, só para mamar nas minhas tetas. Enquanto mamava me apalpava inteira, se aproveitando bastante da chance de me abusar gostoso. E aí, de repente parou, se vestiu em dois segundos e saiu pela janela, como tinha entrado, descendo o andaime com um tchauzinho bem sem vergonha:
– Tchau, tesuda. Outro dia eu volto aqui e te fodo de novo, bem gostoso, tá? Vou te foder até cansar, minha vadia...

Nem disse nada, porque né, ele me fez sua puta e eu bem que gostei... Quando olhei para o relógio, peguei no telefone e liguei para o trabalho, avisando que ia faltar porque estava indisposta... Fechei as cortinas e me enrolei nos lençóis sujos de suor, porra, mel e botinas de trabalho. Sabe aquele soninho pós-gozo? Então...
Tara em uniforme? Conheço bem...



Proibidão

Bom dia, pessoas.

Ultimamente eu ando muito levada... tenho escrito muito erótica e não pretendo parar. Então, para não ficar feio para mim, mudei a configuração do blog para conteúdo adulto. Na prática, o que muda é que, antes de você acessar a página, vai ter que dizer que quer sim, saber do que se passa no meu mundinho vagabundo. Mesmo que seja só água com açúcar.

Ah, e vou colocar a página "Censurado" no rolo também, não vai mais ser necessária.

Para comemorar a maioridade do blog, posto ainda hoje um erótico novinho em folha!

Bjs mil!

segunda-feira, 31 de março de 2014

Tum-tum estereofônico

E nem é da tua carne que eu sinto falta. A carne é importante, mas é de menos. Todo homem tem piroca, é um fato biológico, e nem importa essa falácia de "mas não sabe usar", que qualquer mulherzinha bem mequetrefe consegue arrancar uma boa gozada de uma boa piroca. O caso é que a tua é pequena e nem é grossa o suficiente para uma fricção razoável. Eu gozava contigo porque eu te amo, e o amor brilha olhos que passam a ver belezas e habilidades especiais onde nem há. Eu penso que se hoje eu deixasse você me comer ia ser uma foda bem ruinzinha, mas o pós-foda... Ah, é disso que eu sofro mais: carência pós-foda.

Sinto falta de deitar a cabeça no teu peito, encostar minha orelha naquela depressão escrota que você tem lá... era onde eu ouvia melhor o teu coração, batendo num compasso sincopado e preguiçoso, e achava que aquilo era, só podia ser, amor. Hoje sei que o teu peito é oco, e que eu ouvia meus próprios batimentos. Tua caixa torácica reverberava a paixão que o meu coração executava em som estereofônico.

E ainda assim eu sinto falta, não nego. Negar para quem? E para quê? Sei o que carrego de você em mim, e não preciso que me lembrem, nem dou caso de esquecer. Elefantes... elefantes não esquecem jamais. Também não sigo por aí desfraldando bandeiras, declarando essa saudade. Calo e sigo. Só.

As noites que passo em outros braços, outros corpos em minha cama, suprem a necessidade de carne. O açougue está cheio! E depois do gozo, eu viro para o lado, encaixo a orelha onde imagino a depressão escrota no travesseiro e fico escutando o teu coração imaginário por um longo segundo. E converso com as lágrimas que ecoam a tua ausência estereofônica.

Narciso

Construí uma casinha na curva do teu pescoço, para que eu possa guardar meus sonhos e encantamentos perto do teu coração, da pulsação vibrante do teu sangue nas veias. Quero me deixar ficar quietinha, não pesar e poder contemplar em silêncio a maravilha que é você.

Quando eu julgava que nada mais poderia florescer nas terras salgadas do meu sonho, veio esse botão absurdo, esse Narciso bravo e desafiador, e rasgou com vontade resoluta o véu do chão seco e rachado, o barro vermelho e pisado e desolado que restou da última aventura. O meu mundo tão desvalido estremeceu inteirinho, e a poeira assentada espalhou-se no ar. Desde que o Narciso se elevou do chão, outras coisas brotam, como para acompanhá-lo, para que não fique sozinho.

E ainda que ele se vá, eu sei que vai deixar esse lugar bem mais bonito do que o encontrou. Toda a sua potência, sua beleza e seus gestos impensados, tudo na minha memória, como se fosse Ano Novo todo dia, ainda que meus olhos não possam pousar sobre ele nem roçar de leve a sua fronte, nem respirar o ar à sua volta. Quero é mudar logo para a casinha no teu pescoço. Lá, onde floresceu o meu Narciso, e inúmeras borboletas anunciam a mudança das estações: é lá que vou me abrigar, esperar a chuva passar. E amar.

Abre os olhos, amor meu. Era o fim dos tempos, agora é o dia de Ano.

E tudo é possível outra vez...

segunda-feira, 10 de março de 2014

Baile de máscaras


Ele levantou devagar. Tateou em volta, buscando a máscara que estava usando antes de pegar no sono, aqui do meu lado, na minha cama.

Pôs uma bem bonita - a máscara do amante apaixonado e embriagado - esta tarde. Acho que porque nós brigamos ontem à noite, e ele imaginou que fosse necessário fazer esse tipo para me reconquistar. Ele coloca muita energia nisso. Mas já devia saber que para mim, nem precisa. Eu já assisti ao espetáculo da troca de máscaras tantas vezes, e tão de perto, que sei de cor o truque, a ilusão que provoca a sua volta. Mas não me pode causar impressão.

Levantei também, e deixei que se exasperasse um pouco enquanto procurava seu adereço, e tomei um banho. Ele entrou no banheiro de máscara trocada - agora era o cafajeste tarado que vinha atrás de mim no chuveiro. Gosto do modo como esse faz sexo, mas não estava disposta. Tínhamos acabado de fazer amor - e sexo depois de fazer amor me parece tão misplaced... Ele saiu irritado, foi para a varanda fumar um cigarro e esperar que eu saísse dali.

Vesti o roupão macio e resolvi preparar um jantar. Ele ia namorar naquela noite, e só quando estivesse no elevador colocaria o disfarce usual nessas ocasiões: bom rapaz. Eu sabia que voltaria depois para provar a comida pelo jeito como farejou o ar quando saiu do banheiro, perfumado e penteado, vestindo uma bela camisa de seda. Pegou a calça e os sapatos que eu tinha engraxado, terminou de vestir-se e veio me beijar o pescoço e apalpar meus peitos e bunda, o cafajeste ainda sorrindo com o canto da boca, um sorriso safado e o ar mais descarado possível. Ele é a perfeita ilusão.

Para cada ocasião, uma máscara. É o perfeito cavalheiro para as velhinhas desamparadas nos mercados e padarias da vida, cafajeste comigo e outras tantas por aí - vai saber - o canalha mor para seus amigos do peito. O bom esposo e pai para a família - o olhar da mulher brilhando enquanto enumera suas qualidades - o charmoso sedutor para cada desprevenida da cidade. O profissional responsável e respeitado, o bom filho, o bom rapaz, o pobre coitado- que faz cara de pidão e consegue tudo que quer, o macho-alfa, o capitão, o filhão, o homem íntegro, irreprovável, o rebelde... Pensa tê-las colecionado, ao longo da vida. Pensa que são fruto de sua experiência. Hoje eu sei que, de fato, ele é possuído por suas máscaras, é seu prisioneiro, o item de sua coleção. De tanto usar máscaras, já nem se lembra qual a sua verdadeira cara. Perdeu-se no labirinto estreito e meandroso de suas performances diárias para a multidão de incautos que o cercam. Penetrou tão profundamente no labirinto... Cada passo adiante mais confuso, menos confiante. Mais veloz a cada passo - ele quase corre! Para quê? Isso ele não sabe, não sabe mais.

A única verdade que ele conhece é o gosto da minha boca, o perfume dos meus cabelos. Minha beleza, sua única certeza - e seu vício, só por hoje. Ele não tem um coração para me dar, não mais. Ficou perdido no labirinto, junto aos seus sonhos e esperanças. Tudo que lhe resta é a busca por sua própria face. Ele volta para mim porque sabe que eu sei quem ele é, de fato. Ele quer ver-se refletido nos meus olhos, drenar de mim a energia vital que impede seu desaparecimento, sugar a própria essência de dentro de mim. Eu o guardei em mim, não para mim. Porque o amei primeiro - incondicionalmente, perdidamente. Porque vi sua verdade e ela era linda... Talvez ainda seja, sob o desfile de mentiras que se acumulam sobre ele. Sua mentira é de fácil aquisição. O tesouro da verdade que ele esconde é de valor inestimável. Prefiro ser a guardiã desse segredo a revelá-lo, out in the open. Prefiro guardá-lo até que ele encontre o caminho para fora do labirinto - e eu possa devolvê-lo ao mundo. Mas até a remota possibilidade de fugir dali parece distante - um borrão ainda mais fora de foco, quando a observo da minha perspectiva.

E pensar que ele se protege tanto assim de mim. Que ele mesmo construiu o labirinto para colocar-se a uma distância segura de mim.

E eu o tenho nas mãos.

(Fim de papo. O delírio acabou. Posso ouví-lo fuçando as gavetas, procurando a próxima máscara...)

sábado, 1 de março de 2014

Dipshit pelo mundo

Enquanto o blog fica aqui pegando poeira, os textos que nasceram nele, nessa experiência literária, viajam pelo mundo. Através das tramas da web, as minhas palavras chegam longe, a outras pessoas, outros países, outras culturas. E chegam traduzidas. Explico: em 2012, o texto que publico a seguir foi traduzido para o inglês pelo projeto Contemporary Brazilian Short Stories e também figura na coletânea CBSS vol.2, lançada no início deste ano, e disponível aqui. E agora, para expandir os horizontes dessa história, o mesmo texto foi traduzido para o espanhol, pelo projeto Cuentos Brasileños de la Actualidade.

Em Incendiária, o bloqueio criativo é visto pelo ponto de vista do personagem. Ela estava espalhada pelo chão do meu quarto, em folhas de papel amassadas, rasgadas, nunca queimadas. Lembro que me ocorreu que ela devia estar furiosa comigo. "Se ela pudesse tomar as rédeas..." eu pensei. E ela ganhou voz.

Para comemorar o fato de mais pessoas poderem conhecer o meu mundinho, no idioma delas:


Incendiária


Quantas vezes minha história já não foi escrita? Quantas vezes, e por que caprichos o autor não me rasgou as páginas, começando novamente do zero, outras possibilidades e desfechos espalhados pelo chão de sua sala em desalinho – só para depois encontrarem seu destino final, perfeitamente misturados a uma multidão de outros dejetos e chorume – sem sequer terem a chance de ser reciclados?
Incinerá-las seria mais decente da parte dele. Enquanto ardessem, no meio das chamas, fulgurariam num clarão digno do festim de São João, o calor alimentado por elas vivificando as pessoas congeladas a sua volta, a pira sacrificial inflamada como cada palavra perdida e desperdiçada ali. A fumaça se elevando aos céus como oblação ao divino, a força motriz de cada verbo – ação e reação – provocando as mais acrobáticas revoluções no filete ascendente de resíduos daquela quase existência. Saber perder não lhe ocorria com a mesma facilidade de antes. Tinha perdido demais até ali. Não tinha mais estômago para seguir perdendo. Abriria mão de tantas coisas quantas fossem necessárias – será que era realmente necessário perder tudo, tantas vezes, e continuar tocando em frente?
Se era verdade que a sabedoria viria, já estava atrasada. Já se havia passado tempo demasiado, décadas em compasso de espera – e ela aprendera muito pouco, de verdade. Sim, sentia-se ignorante de tudo, mesmo daquelas coisas que ela mesma inventara nas horas em que se permitia o exercício da criação. Tão presunçosa, fazendo aquilo que era reservado aos deuses: de dentro de si, do cerne do ser, iluminado e aquecido pela tal fogueira, emanações de átomos e moléculas davam origem a um universo original e novo. Totalmente novo. Daqueles que cabem numa minúscula cúpula vítrea, e desfilam dependurados na coleira de um gato durante os 120 minutos de duração da película. E de cuja existência e preservação podem depender as vidas da Terra.
E mesmo assim ela preferiria que ele tivesse a decência de incendiá-las.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

E como é que você sabe que é Amor?

Quando você já esbarrou n'Ele, numa dessas curvas da vida, e tem a certeza de que Ele te pegou de jeito, no fundo você sabe que não é simples assim.

O Amor te olha nos olhos e você enxerga n'Ele as coisas perdidas que você procura desde que é. Através do buraquinho minúsculo das pupilas de Seus olhos, o Amor derrama a sua verdade e te faz seu cativo, para sempre. E Ele nem é o mais bonito, nem o mais puro, nem o mais sincero. Ele não te dá nenhuma garantia, você abandona as ilusões de segurança e deixa de uma vez o cais das tuas certezas para se lançar no oceano movediço de onde Ele te acena. E não, Ele não te ama, Ele não tem nenhum apreço especial por você. E nem jamais esteve assim tão interessado nisso tudo. Não como você. Ele não se importa -- mas é mentira.

O Amor é esquisito, e torto, e todo mundo que te ama te diz que é melhor deixar isso tudo para trás. E então você faz todo um esforço, se debate nessas águas revoltas como uma náufraga e, quando alcança a praia, pensa que triunfou... ah, como você é ingênua, garota!

Um dia, um dia que nem é assim importante, uma terça de manhã, Ele aparece na sua frente. E a barba d'Ele está crescida, e as bolsas sob os olhos O fazem parecer muito mais velho e mais cansado do que você. E você olha Ele nos olhos... e fecha os seus, rapidinho! Porque você não quer ver tudo de novo, porque só o vislumbre do negativo de você projetado nas retinas d'Ele podem te transformar em pedra novamente. Você cala o coração que dispara quando lembra, sufoca os sentimentos que não te deixaram (como você imaginara), e tenta respirar devagar e contar até mil. E chora baixinho no travesseiro, chamando o nome d'Ele na escuridão. Porque até um ínfimo segundo com Ele é melhor do que todos os amores voláteis que se derramaram sobre a sua vida desde que você Lhe deu as costas, porque as mentiras baratas que Ele te contou tem um gosto melhor que todo esse Pinot Noir neozelandês que você bebe por aí, entre jantares e noites ardentes nos braços de todos esses homens que te desejam e fazem de um tudo para conquistar o teu amor. Porque você sabe que anda garimpando entre os lençóis sujos de gozo e suor aquela sensação fabulosa de amar sem porquê, de oferecer-se sem esperar nada de volta que já não seja seu, dentro d'Ele.

É uma merda, e você sabe.

Só não tem como saber se isso é mesmo amor...




As regras do rolê

As regras do rolê são bastantes simples: Fode, mas não se apaixona. Se apaixonar, não fode mais, pra não se foder depois. Tudo o que te ...