sexta-feira, 14 de junho de 2013

Dos acontecimentos ao lançamento

Olá, pessoas.

Sim, eu sei, eu sei: esse bloguinho anda muito abandonado, e só tenho a mim mesma para culpar por isso. Eu, eu mesma, e o lançamento.

As coisas aconteceram meio sem querer, como quase tudo na minha vida. O Guilherme me chamou lá na editora para conversarmos um pouco, e me fez uma proposta de publicação do conteúdo do blog. Eu gostei da conversa, mas custei a me decidir, sabe? Eu desconfio de tudo, sou quase mineira... Só que ele insistiu. E então eu voltei lá e assinei o contrato.

Voltei para casa e comecei a separar e organizar uma seleção dos textos. Foi difícil revisitar alguns deles. Outros, me receberam de braços abertos. No fim, dei ao livro o meu melhor. E agora quem quiser vai poder pôr na estante o meu livro de papel, "como um troféu, no meio da bugiganga"...

Então, essa sequência de acontecimentos deságua no lançamento, e o propósito deste post é convidá-los todos, meus leitores amigos. Terça-feira 18/06, espero vocês no Drink Café. E não se fala mais nisso... :D


Enquanto isso, nem custa nada vocês darem um pulinho no Facebook para curtir a página do blog: https://www.facebook.com/DipshitMayo

E, para acompanhar o convite, um petisco: por tempo limitado, aqui, neste post, a íntegra do conto que dá nome ao livro. Com vocês, Ezildinha e suas Ingenuidades!

Ingenuidades


Sempre acreditara ser aquele tipo de mulher de quem os homens fazem gato e sapato. Jamais em toda sua vida soubera dizer não a quem quer que fosse, quanto mais a um homem por quem sentisse amor. E desta forma, seguiu sendo pilhada por toda a sua existência: ora o marido, ora o filho, ora o chefe, todos, sem exceção, conseguiram dela tudo o que desejaram.
Era assim que ela enxergava o mundo, e talvez sua mãe tivesse alguma culpa, por ter ela mesma sido sempre submissa e subordinada ao marido, seu padrasto. Ela nunca soubera que mulheres pudessem ser fortes, donas de si, ter desejos próprios e até mesmo decidir o que fazer da sua vida.
Havia chegado o dia do casamento de seu único filho, Adalberto - conhecido por todos como Júnior, uma vez que fora nomeado como seu pai. Ela achava de uma falta de imaginação sem precedentes, nomear crianças como a seus pais, mas não pudera dizer que não ao marido, e chamara ao menino Jr toda a vida, a única insubordinação de que fora capaz. Estava vestida, penteada e maquiada de forma impecável, e via refletida no espelho uma bela mulher, jovem para seus 53 anos. Estava emocionadíssima, e esperava o momento de entrar na igreja com o filho, enquanto a família de sua nora corria de um lado para o outro, todos extremamente nervosos. Imaginou ser essa a atribuição da mãe da noiva, esse preocupar-se excessivo. Olhava curiosa toda aquela aflição reinante, mas desistira de oferecer-lhes alguma ajuda. Para Dona Yolanda, mãe da Narinha, era quase uma competição entre elas, para descobrir quem era a melhor mãe, e ela já lamentava por seu filho, genro daquele trator humano! Ria-se de tudo internamente, porque sabia que, apesar de toda a histeria, eram todas muito boas pessoas, e seu netinho ou netinha seria muito feliz por viver no meio de todos eles. Estava assim, absorta em seus pensamentos, quando ouviu a voz de Adalberto, o pai, chamando-a:
- Ezilda, venha cá, mulher! Está fazendo o quê aí?
- Já vou, meu bem!
- Por que você estava ali, criatura? - Adalberto lhe perguntou, exaltado. Ele sempre ficava indignado quando ela ficava à toa. Era quase uma afronta a ele, era como ela percebia, se ela ficasse sem o que fazer, nem que fosse por cinco minutos.
- Ora, Beto! Haja paciência... Você não viu que eu ofereci ajuda a D. Yolanda? Ela insistiu que não precisava, então, fiquei olhando.
- Ora, mulher... Acha-se logo o que fazer! Vai lá ver se o Betinho não está precisando de alguma coisa, vai.
Ela apenas meneou a cabeça, e foi ter com o filho. Para o marido ela era como uma emissária, a quem ele enviava onde queria, para fins de sua representação. Nunca pensava nisso, mas achava muito chato ter que servi-lo todas as vezes, com um sorriso no rosto. E ele, o que teria que dar-lhe em troca por tanta dedicação? Ah, isso ela bem sabia: todas aquelas amantes, o filho da Outra que ele se recusara a registrar, a quem ela reconhecera e amadrinhara desde pequerrucho, o risco de bancarrota por suas dívidas de jogo, e um sem número de eventos em que se metera. Essa era a paga que ela merecia...
Percebendo a nuvem escura que se colocava sobre seus olhos enquanto lembrava desdes incidentes, sacudiu a cabeça como quem espantava um mosquito inconveniente e sorriu para o Jr. Seu filhote estava lindo, um homem feito com olhos de menino... apavorado! Ela ficou alarmada imediatamente, e correu em sua direção, solícita.
- O que houve, Jr?
- Mamãe, eu acho que a Narinha desistiu do casamento.
- Agora, meu filho? Na hora de cerimônia?
- É, mãe, agora, agorinha! - retrucou Jr exasperado. Eu escutei o que não devia, D. Yolanda aos berros com ela no telefone, dizendo que parasse com a criancice, saísse daquele quarto e viesse já - mas eu ouvi ela dizendo que não viria, que não queria nem me ver, que o nosso filho teria pai, mas ela não queria marido de jeito nenhum. É o fim, mamãe. Ela não quer viver comigo. Ela prefere ficar sozinha a viver comigo...
Ezilda abraçou o filho, enquanto tentava inutilmente compreender o que ele dissera. "O que ele quis dizer com não quer casar comigo? Então Narinha enlouqueceu? Será possível uma mulher ter um filho sem pai, por Deus?" Esses pensamentos passavam rapidamente por sua cabeça, ela ficou zonza e não soube a princípio que juízo fazer do que lhe fora dito. Limitou-se a olhar seu filho nos olhos e garantir que tudo daria certo. Alguma coisa estava acontecendo na sua cabeça, mas não daria atenção àquilo naquele momento. Foi até onde estava D. Yolanda e disse:
- Querida, eu preciso falar com a Narinha.
- Está tudo sob controle, Ezilda, eu lhe asseguro. - Então Ezilda foi mais assertiva.
- Yolanda, meu amor, eu vou falar com a Narinha agora, ok? Onde ela está?
Dona Yolanda parecia petrificada, e como nunca tinha visto "Ezildinha" falar daquela maneira, aquiesceu. Deu um suspiro profundo, e dando de ombros, ofereceu-se para acompanhá-la até o quarto da casa de festas onde a noiva estava se arrumando. Por todo o caminho foi oferecendo explicações, entre muxoxos, justificando que esses jovens eram assim, inconsequentes, que essas coisas de medo eram assim mesmo, que no final tudo daria certo, mas Ezilda não estava escutando. Ela sabia o que tinha que dizer a quase-futura-ex-nora, e o faria. Quando chegaram na porta do quarto, Yolanda fez que ia bater na porta para chamar a filha, mas Ezilda cortou seu gesto, imperativa.
- Eu assumo daqui, obrigada, Yolanda. Vai dar tudo certo, de alguma forma. - Diante do silêncio perplexo da outra, Ezilda bateu na porta, anunciando-se:
- Narinha, sou eu, Ezilda. Vou entrar, querida. - ela não estava ali para brincadeiras, era a felicidade do filho e do neto que estavam em jogo, e não ouviria nenhuma negativa da noiva. Virou a maçaneta e entrou no quarto, decidida. Encontrou a menina jogada sobre a cama, os cabelos desalinhados, a maquiagem borrada, em prantos. Abraçou a Nara e permitiu que a pobrezinha terminasse de se lamentar em seu ombro. Entre soluços, ela desabafou:
- Dona Ezilda, a senhora me perdoa? Será que seu Adalberto vai me perdoar também? Ah, dona Ezilda, eu não sei mais de nada, eu não sei o que fazer! A senhora já imaginou o que vai acontecer quando o Júnior perceber a merda que fez e me abandonar? - e dito isso, desabou novamente em lágrimas. Ezilda sorriu e apertou a menina em seus braços. "Quanta bobagem a gente pensa quando está grávida..."
- Minha filha... você atinou na quantidade de asneiras que você me disse nesse minutinho desde que eu entrei aqui? - e continuou, sob o olhar atônito de Nara - Minha criança, o Jr é completamente apaixonado por você! Você acha que ele não se casaria com você se não fosse pela gravidez? Ora, Narinha... deixe de ingenuidade, esses são outros tempos! Meu filho casaria com você de qualquer maneira. Talvez não tão logo, talvez mais um ano, ou dois - mas tenho certeza de que, no coração dele, você é a escolhida! Para que tantas inseguranças, meu anjinho? Você ama o meu filho?
- Ai, dona Ezilda... a senhora sabe que eu sou louca pelo Júnior.
- E você duvida no seu coração que possa ser feliz com ele, ou que ele possa ser feliz do seu lado?
- Não, minha sogra! Eu não posso imaginar a minha vida sem o Júnior...
- Eu sei disso, minha filha. Ninguém se casa com um homem que se chame Adalberto sem ter certeza absoluta de que é isso que deseja. Agora, vamos dar um jeitinho em você, e eu te garanto que quando você chegar naquele salão ele nem vai se lembrar que você está esperando criança!

A menina sorriu, meio envergonhada, e permitiu que a sogra lhe penteasse os cabelos, refizesse sua maquiagem e ajeitasse o véu e o vestido. Quando Ezilda deixou aquele quarto, Narinha estava pronta para dizer sim ao Jr, e até Yolanda, embora não gostasse de dar-se por vencida, estava agradecida àquela mulher intrometida que salvara a situação. Ezilda foi até seu filho, deixou que ele tomasse seu braço e a conduzisse ao altar montado no meio do salão, para tomar seu lugar ao lado de Adalberto, o pai. A cerimônia foi lindíssima, os noivos muito emocionados, o filho feliz como nunca tinha visto, a nora radiante, toda a felicidade do casal transbordando sobre os convidados. Ezilda não se lembrava de ter presenciado um casamento mais bonito - nem mesmo o seu. Até que ela fixou o olhar na fileira do fundo, e sentiu um arrepio subir-lhe a espinha. Sentada ali, assistindo a cerimônia, estava a Outra - a amante do marido, mãe de seu afilhado! Ela olhou novamente, não sem antes piscar, num esforço para certificar-se de que era real. O rapazote, irmão de Jr, estava agora com dezesseis anos, e era a cópia esculpida de seu pai, o marido dela. Ela gostava muito do Anselmo, mas vê-lo ali, no casamento do Jr, e ainda por cima acompanhado de sua mãe, aquilo foi um pouco demais para ela. Coisa do marido, tinha certeza. E nunca uma decisão dele pareceu-lhe tão audaciosa!
Aquela zonzeira que ela experimentara antes, quando o filho lhe falou da desistência da noiva, aqueles pensamentos que não concatenavam, agora formavam uma imagem muito clara em sua mente. Ela entendeu num relance porque tinha ficado tão incomodada com a ideia louca da Nara. "Eu tenho escolha", ela pensou, e viu tudo claramente. Todas aquelas humilhações que sofrera, nunca mais. O medo do abandono, nunca mais. A dor da perda iminente, nunca mais.
A festa se desenrolou suave e deslumbrante, todos dançando e se divertindo até a madrugada. Ela mesma foi pessoalmente cumprimentar o afilhado e sua mãe, sorrindo e muito cordial. O próprio Anselmo lembrou-se depois que sua madrinha nunca tinha sido tão gentil com sua mãe antes, e o marido ficou encantado, imaginando todos os possíveis desdobramentos positivos dessa nova atitude de Ezilda para consigo. Quando os esposos resolveram deixar a festa, ela abraçou os dois ternamente, e desejou-lhes uma vida inteira de cuidados mútuos e muita gentileza. Recomendou ao filho que fosse sempre bom companheiro para a esposa, e que nunca, nunca a decepcionasse. Sorriu para a nora, abençoou a ela e ao seu ventre, onde o minúsculo embrião repousava, imperceptível, e deixou que seguissem.
Esperou até a hora em que Adalberto veio a seu encontro, depois de ter dançado quase a noite toda com a Outra, já meio alto e aos gritos.
- Ei, Ezilda, minha filha! Venha cá, vamos para casa.
- Não.
- O quê?
- Não, Adalberto. Você não vai para casa comigo.
- Como assim, mulher? O que você pensa que vai fazer, criatura?
- Eu vou ser feliz sozinha, porque com você já faz muitos anos não sou. Nem sei se fui, um dia.
- E quem te disse que você pode fazer uma coisa dessas, falar assim comigo?! Eu sou teu marido, criatura!
- Mas não é meu dono, e eu não sou obrigada a ficar do teu lado, nunca mais. Olha só, nós já criamos nosso filho, ele já é dono de seu nariz e logo será pai. Não existe motivo na face da Terra para que eu durma sequer mais uma noite ao teu lado, estrupício! Eu deixo as tuas coisas na porta da frente amanhã. - deu-lhe as costas, resoluta.
- Mas mulher, pelo amor de Deus, para onde eu vou?
- Não me interessa.
- Mas o que houve, criatura?
- Ah, Adalberto, eu descobri uma coisa hoje. E o tempo da minha ingenuidade acabou.
Ela seguiu em frente, deixando para trás um Adalberto perplexo e descrente, a Outra lívida e assustada, e Anselmo, seu afilhado, às gargalhadas.
- Ô, dinda!
- Diga, meu querido?
- A que horas eu posso passar lá na sua casa para pegar as coisas do papai, amanhã?
- Passe depois das 11h, meu filho, e almoce comigo, sim?
- Tá combinado, dinda!
E enquanto ela seguia em frente, acenando bem alto um adeusinho a Anselmo, ele virou-se para o pai e disse, assim entre dentes:
- Perdeu, playboy!


As regras do rolê

As regras do rolê são bastantes simples: Fode, mas não se apaixona. Se apaixonar, não fode mais, pra não se foder depois. Tudo o que te ...