domingo, 9 de maio de 2010

Germinação

Os minutos teimavam em não passar, enquanto ela olhava fixamente para a haste plástica a sua frente. Na bula dizia que o teste levava cinco minutos para dar o resultado.

Lenta e definitivamente, uma segunda linha rósea se formava ali, do lado da haste oposto ao ponto onde ela tinha feito xixi. "Ai, meu Deus, meu Deus... Tô grávida."

Ela já sabia, mesmo que não admitisse para si mesma, ou para quem quer que fosse. Afinal, nas duas últimas semanas vinha enjoando sistematicamente pela manhã, e vomitava tudo o que comesse no café. Seus peitos mal cabiam no sutiã, e a menstruação estava atrasada uns cinco dias, já.

Alguma coisa havia mudado dentro dela. Uma nova existência tinha começado bem ali, em seu baixo ventre - e não pedira autorização a ninguém. Ela se olhou no espelho e por pouco não se reconheceu. Era uma mulher nova ali, diferente daquela que estivera refletida antes, ainda naquela tarde. Em sua fisionomia, a decisão do que fazer suavizava as linhas de expressão que antes endureciam seu semblante. Não estava sozinha.

Ela precisava contar ao namorado. Ele não ia gostar. Ia dizer que ela devia tirar a criança, que ele não podia assumir esse filho, que isso iria acabar com o casamento dele. E ela nunca mais o veria - porque isso ela não ia fazer.

Aquele filho ou filha estava chegando. Faltavam 38 semanas.

Ela abriu o armário. Respirou fundo. Começou a livrar-se de algumas coisas. Precisava de espaço para recebê-lo...

(Pelo dia das mães - e das que ainda serão...)

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