quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Imagine us as one...
... uma! (revisado em 04/01/2010)
(Im)possibilidades
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
What if?
E já que este é o nosso tema
(eu radical, você vogal temática)
Voltamos ao nosso problema:
E se você estivesse aqui, junto?
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
The strangest thing
- eu sozinha.
Só, na multidão.
Aí, vem você - na imaginação.
E eu te vejo,
E você sorri,
E o mundo inteiro se abre num desabrochar de primavera.
Eu sei. Você sabe.
Enough...
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Sublim(e)inar
O perfume do teu sim tão sutil,
Que sinto o cheiro do não, exalando forte da caçamba lá na esquina,
Subindo pelo vão do elevador,
Invadindo o apartamento pelas frestas da porta...
E te levando embora - bem na hora do bis.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
- 3...
Justo ela, sempre tão ativa e animada, presente em todos os embalos de sábado a sábado - dia e noite - sempre ligada, andava agora caindo pelas tabelas, o olhar perdido no espaço, sempre sonolenta. Já havia recusado três convites para sair só naquela semana! E as pessoas iam acabar desistindo de convidá-la, e acabaria esquecida, no limbo das listas de convidados das festinhas VIP a que havia se acostumado frequentar.
O namorado - se é que ela ainda podia chamá-lo assim, tão distante ultimamente, sempre dedicando sua total atenção ao trabalho, aos amigos, pouco tempo para ela - já tinha reclamado de sua ausência. E isso vindo dele era um sinal alarmante de que alguma coisa não estava bem. A mãe estava uma alegria só - toda empolgadinha - só porque tinha conseguido falar-lhe ao telefone por duas noites seguidas. E todas as suas energias dedicadas a impedir seus olhos de se fecharem... "Eu preciso ir ao médico, tomar uns complementos vitamínicos e umas anfetaminas... Ah, sei lá! Eu preciso é de balada!" Passou a mão no telefone e descobriu que tinha uma rave no Íris. Foi!
Dançou a noite inteira, dançou o namorado (ele que fique com os amigos), dançou a mãe (hoje a gente não bate papinho, mamãe!), dançou a sobriedade (hoje não!), dançou o fim do mundo - porque não estava morta. E cansou. Já devia ser quase dia - e o efeito do XTC se esvaía, e ela nem conseguia mais ficar de pé. Arrastou-se até o sofá do lounge, e lá caiu, adormecida quase que instantaneamente.
"Saímos do Íris, eu, minha amiga e mais três carinhas. Vamos até o apê de um deles, logo ali, na Saúde, ficar de bobeira - e claro que vai rolar alguma sacanagem. O lugar é escuro - fica na sombra de um prédio bem alto do outro lado da rua - e abafado. Essas características conferem uma qualidade angustiante ao espaço - e eu não me sinto confortável aqui. Um dos caras trouxe LSD, e ofereceu. Ela logo quis, eu passo, e num instante o cara e ela estão atracados num canto do sofá. Os outros dois vem sentar do meu lado, assistindo a pegação - e lá vem eles, para cima de mim. No início até que estava gostoso, eles são bem competentes na pegação - mas estou desconfortável, mais uma vez. Eu aqui, podia estar curtindo uma sacanagem bacana, e fico pensando no cretino... Ai, sei lá, estremeci e travei. Digo que não quero mais, que não estou mais a fim. E os caras piram! Começam a me bater de verdade, sinto o sangue escorrendo do meu nariz, na minha boca, no fundo da garganta - gosto e textura de sangue, meu sangue descendo do supercílio esquerdo turvando minha visão. Sinto o calor da pisada de um deles na minha barriga... E a minha amiga da onça lá, atracada com o cara. Eles me arrastam para o quarto e me barbarizam, cara... Eu nem sinto, acho que vou morrer, acho que eles estouraram uma artéria abdominal me espancando... A consciência está apagando, como uma vela dentro de uma cúpula fechada - estou indo, e ninguém vem se despedir... Eles só vão perceber quando estiverem satisfeitos. E provavelmente vão me jogar num lixão, numa caçamba qualquer...
Desperto aflita. Nem um arranhão. Provavelmente estou morta, e a mente continua. Não. Estou amarrada numa cadeira, amordaçada. Não posso pedir socorro. Os caras que aparecem não são os mesmos de antes, não sei onde estou. Eles me perguntam coisas das quais não sei. Onde está a droga? - que droga? Eu já parei faz tempos, agora só uso XTC, e mesmo assim na balada! - Eles me batem mais um pouco. Merda! Não sei de nada, não sei que história de droga é essa! Merda, onde está minha amiga? Ela me largou sozinha, e agora eu estou literalmente na merda! Só saio dessa bem machucada, ou morta. Esses caras vão me matar de tanta pancada... O inchaço no olho esquerdo me impede de enxergar direito, se alguém me achar viva nem vou poder descrevê-los precisamente... O que é aquele emblema na camisa dele? Merda, polícia civil! Agora ferrou de vez... Esses caras são piores que muito traficante - aliás, foi por isso que eu parei com a herô. Vou desmaiar, vou perder os sentidos. Acho que não aguento apanhar muito mais... Eles já me quebraram algumas costelas, eu tenho dificuldade para respirar - é, deve ter perfurado um pulmão. Porra, mãe, eu devia ter ficado em casa e papeado com você essa noite... Olha só o que eu fui arrumar para mim... É o fim da linha, mãe, tô partindo... E dessa viagem eu não volto, não posso te trazer souvenir...
Sinto o Sol morno do amanhecer no rosto. Abro os olhos. Estou deitada no gramado do jardim do pátio de entrada do prédio dele. Ele - deitado do meu lado - ri como criança, enquanto eu conto para ele o quanto eu apanhei dos caras por ter travado bem na hora H. Nós dois rimos muito. Eu digo que a culpa é dele, e mostro os hematomas. Nossa, como estão doloridos! E como foi que eu vim parar aqui? Faço força para ignorar essa indagação - sacudo a cabeça, mais uma vez. Eu quero me deixar ficar aqui, no teu abraço, amor. Tão gostoso, tão aconchegante... De repente, uma sombra entre mim e o Sol. E sinto a pancada dura e seca bem na têmpora direita. Caramba, quanto sangue! De onde saiu essa louca, amor? Você já a deixou faz o quê, dois anos? O que essa louca está fazendo aqui? Ai, porque você não faz nada, porque ela continua investindo contra mim? Olho para o lado: ele está inerte, caído do meu lado. Amor, amor, olha para mim, amor! Ele não pode abrir os olhos porque não está mais ali. E eu me esforço para continuar - mas ela não para de me surrar - e eu vejo tua mão estendida para mim. Eu aperto tua mão na minha. Fecho os olhos. Vou com você aonde você for..."
- "Carina, acorda Carina! CARINA!!!"
Ela abre os olhos. Está novamente desperta. Está de volta ao sofá do lounge. Morreu novamente, mais três mortes. "Agora só falta uma", ela pensa alto - e ninguém entende.
- "E ai, vamos ao apê desse carinha? Tô super a fim de uma pegação..."
Não, ela responde muda, balançando a cabeça. Precisa ir para casa, tomar um longo banho, pôr suas coisas em ordem. Não sabia quando chegaria a próxima morte onírica. Mas dormiria com mais cuidado dali para frente...
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Sete, menos três: quatro.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Invitation
domingo, 13 de dezembro de 2009
Constatação
sábado, 12 de dezembro de 2009
Urdidura
Suicidal note
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Atômica
Fomos plasmados no interior ígneo da mesma estrela, ele e eu. Da mesma matéria e do mesmo sopro. Fomos dispersados pelo universo quando nossa estrela-mãe completou seu ciclo, e por milênios vagamos, distantes anos-luz um do outro. Meus átomos ávidos por reencontrá-lo, os elétrons ansiando por novas ligações. Tantos elementos, tantas ligações covalentes, iônicas e dativas – e eu ainda em busca dele.
Completamos inúmeros ciclos biogeoquímicos, nos mais diversos sistemas planetários, formando tantas substâncias tão complexas, cada dia mais apartados – mas sempre juntos, porque da matéria de que fomos feitos, só eu e ele. Navegamos os ventos solares, minhas velas sempre escancaradas ante qualquer possibilidade de encontro. Nem sei quantos sistemas em quantas galáxias de quantos universos viajei em busca dele, ou por quantos ele viajou, fugindo de mim.
Um dia, um dia dentre tantos nessa infinidade de tempo transcorrido, num planeta qualquer de um sistema planetário em uma galáxia como tantas, novamente reunidos. A matéria de que sou feita vibrando como um diapasão, a energia gerada pelo próprio encontro – gênese de planetas – capaz de trazer à vida cada nível energético da minha eletrosfera. A mesma matéria nele, num uníssono cristalino, ressoando a sinfonia do encontro, amplificando seus acordes e enviando a mensagem a cada canto do espaço-tempo. E retraindo, encolhendo em sua concha, como se fosse errado permitir-se essa felicidade incontida.
Meus pobres elétrons desejando a ligação perfeita que os estabilizaria para sempre - um novamente - e os dele estagnados numa outra ligação covalente, tão frágil e ainda assim indissolúvel.
Sinto o colapso chegando, as forças fraca e forte desistindo de sua batalha crucial – como jamais poderia ser. Num instante, uma a uma, minhas partículas começam a colidir – e eu simplesmente permito que aconteça, a explosão da matéria convertendo-se em energia, tudo o que fui de espera e desejo, tudo que soube de mim logrado pela ilusão do encontro, tudo que ansiei e desisti desfazendo o que sou, numa fração de segundo: fissão nuclear.
Revelação
Isso é coisa que não se comenta. Talvez os amigos mais próximos já tivessem notado, ela não saberia dizer – e não se importava que percebessem, nem ficava pensando sobre isso. Tinha clareza a respeito de sua sexualidade – e uma curiosidade secreta por mulheres. Sua identidade heterossexual não se abalava com esse interesse, mas ela sentia que, se não houvesse uma oportunidade de experimentar uma mulher, ficaria faltando alguma coisa em sua história.
A oportunidade veio numa quarta-feira particularmente chuvosa, quando uma chuva torrencial alagou a cidade. Impedida de sair para o trabalho, resolveu perambular pelo bairro – as ruas normalmente ficam vazias em dias como esse, e ela preferia evitar multidões, quando possível.
Caminhou até o calçadão e desistiu da idéia na hora – era desagradável estar ali, ensopada e açoitada por ventos cortantes. Voltou pelo mesmo caminho, e entrou numa deli recém inaugurada. Adorou o mix de produtos e ficou ali, flanando entre as prateleiras e selecionando um fois gras aqui, uma mostarda dijon ali, um espumante brut acolá. Pronto, estava resolvido: seria uma celebração íntima a liberdade! Coletou na geladeira um pote de sorvete de doce de leite argentino e já ai ao caixa pagar, quando notou que no fundo da loja funcionava um café literário: as prateleiras recheadas de Best Sellers e clássicos da literatura cheiravam a livro novo – e para ela, aquele era o cheiro mais sedutor do mundo, seguido de perto pelo cheiro do café espresso bem tirado por um bom barista. E ali ela encontrou os dois, comungando naquele espaço aconchegante e charmoso. Um deleite! Devolveu o sorvete ao freezer – “mamãe volta para te buscar depois do café, querido” – e sentou-se numa das mesas. Pediu um espresso e uma fatia de torta de pecãs. Enquanto esperava, foi até a prateleira mais próxima, e pegou um vampiro de Anne Rice para passar o tempo – conhecia bem a história, mas gostava de ler e reler seus livros prediletos.
Estava ali, folheando preguiçosamente o volume e bicando o espresso curto, encorpado, e percebeu que estava sendo observada pela mulher sentada na mesa ao lado. Ela devia ter mais ou menos a sua idade, um pouco mais alta e era ruiva de verdade, o pacote completo: pele oliva, sardas cor de ferrugem, olhos castanhos muitos claros e até os cílios daquela cor vermelho dourada! Ficou tão impressionada com o inesperado da situação de acabou devolvendo o olhar, acidentalmente. Então a outra puxou o fio da conversa, e ela conhecia os vampiros da Anne Rice, e ouvia rock compulsivamente, e adorava espresso curto, e cheirava tão bem, e era interessante. Tudo nela era vermelho ouro, como seus cabelos e pêlos e cílios – a voz, o sorriso, os gestos, a maneira como olhava para ela – e ela se pegou imaginando seus pelos pubianos, se seriam acaso vermelhos e perfumados como ela era. O pensamento percorreu seu corpo como eletricidade, e seus pêlos se eriçaram de repente – e ela corou. Se a outra percebeu, não disse nem deu a entender, mas a atmosfera ficou carregada de energia sexual imediatamente. E ela não quis pensar, não podia racionalizar aquilo – e convidou-a a participar de sua pequena celebração. A outra sorriu, e até seu sorriso parecia reluzir – era ouro e escarlate.
Ela foi até a geladeira buscar o sorvete - “mamãe está aqui, querido” – enquanto a outra pagava a conta. Foram juntas ao seu apartamento. Caminhavam sem pressa, mas havia uma urgência surda, uma excitação crescente entre elas, e ela já sofria os efeitos da angústia, seus batimentos acelerados, a respiração curta – e quando chegaram ao apartamento, ela não conseguia encontrar a chave dentro da bolsa. Ela ria nervosa, e então a outra tocou de leve sua mão, sorrindo:
- Não tenha pressa, eu não vou a lugar nenhum.
Entraram no apartamento em silêncio, como se todas as palavras tivessem ficado do lado de fora. Entreolharam-se, e ela quebrou o silêncio, tensa, e levou as compras para a cozinha. Pôs o sorvete e o espumante no freezer, respirou fundo e voltou para a sala. Encontrou a outra reclinada confortavelmente na chaise. Seus olhares se encontraram, e ela bateu de leve no assento, convidativa. E ela não resistiu.
Quando sentou-se junto a ela, seus dedos tocaram de leve o rosto da outra, sentindo pela primeira vez a textura daquela pele acetinada. Ficou hipnotizada por seus olhos, ali tão próximos, piscando com aqueles cílios longos e luminosos, e sua respiração falhou um compasso. A outra aproximou-se lentamente dela, seu rosto roçando de leve o dela, o perfume e o calor de seu hálito envolvendo-a, seus lábios tocando suas faces em pequenos e delicados beijos, embriagando sua mente, sua alma, até que por fim tocaram seus lábios – e aquele beijo prolongou-se indefinitamente, enquanto provavam o néctar da saliva uma da outra. Tocavam-se num ritmo lânguido e constante, ela ainda tensa, sem saber exatamente como se comportar.
- “Você é virgem, não é?” – a outra perguntou, adivinhando. Ela apenas consentiu, acenando com a cabeça, constrangida por um minuto, achando a afirmação ao mesmo tempo absurda e verdadeira. “Você só precisa relaxar, deixar as coisas acontecerem naturalmente. Eu quero você, você me quer. O resto não importa.”
- Vamos para o meu quarto, então? Ela convidou, e a outra assentiu.
Sentaram-se na cama, e juntas, recomeçaram a exploração. Era incrível para ela imaginar que aquilo nunca tinha lhe acontecido e de repente nada parecia mais natural. Aquelas mãos macias que a tocavam tão suaves e firmes - como devia sempre ser – aqueles dedos encontrando os caminhos de seu corpo por sobre o vestido, a língua lisa e úmida lambendo seu pescoço, sua boca, seus olhos, e ela sorrindo - as duas sorrindo – e se permitindo a intimidade daquele momento. Cada peça de roupa despida devagar, os olhos dela nos seus, e em seu corpo – e ela brincando de espelho, copiando a outra, sua inexperiência compensada pelo desejo, desejo de ouro e escarlate, vermelho fogo de sua língua quente em seus mamilos, vermelho brasa dos pelos pubianos dela, vermelho carne de seu sexo incandescente sob o toque delicado e preciso dos dedos dela, de sua língua, de sua boca faminta devorando, explorando cada dobra de pele, cada milímetro de mucosa – nem forte nem débil: exata. O gozo veio em ondas vigorosas, subindo por dentro do sexo e explodindo em sua garganta, um gemido aflito de quem deseja dar o que recebeu, e ela sentiu-se encolher e expandir-se, como um coração que pulsa, a mão dela fechada sobre o seu sexo, como se pudesse conter ali a explosão das ondas do mar sobre os rochedos do costão.
Ela então a beijou, e a boca tinha o gosto do seu sexo, e ela suspirou profundamente. Sentou-se entre suas pernas, a bunda dela roçando-lhe o sexo, aninhou-se em seu abraço, e pegou suas mãos. Beijou cada um de seus dedos, e envolveu os próprios seios em suas mãos. Ela começou a beijar a curva delicada do pescoço dela, a penugem de ouro e cobre eriçada sob o toque de seus lábios como um convite aos seus beijos e carícias. Apalpou os seios dela, sentindo atenta sua forma e textura, querendo aprender aquele corpo, decorá-lo. Daquele ângulo sobre o ombro direito dela podia ver os pelos vermelhos de seu púbis – tão perfeitos e lindos como ela imaginara – e percebeu que eles se abriam úmidos, e quis conhecer seu gosto como ela conhecera o seu. Suas mãos desceram pelo vale da barriga dela, e ela acariciou aqueles pelos, a respiração e o coração contidos ao som de seus gemidos, e deslizou seus dedos pelo sexo dela, os lábios molhados de tesão, o clitóris firme, pulsante, toda aquela secreção tornando a sensação de toca-la ao mesmo tempo excitante e deliciosa. Ela continuou tocando seu sexo com uma das mãos, enquanto levava a outra até sua boca, provando o gosto dela, descobrindo em seu palato o sabor que imaginara antes, ainda na mesa do café. Sussurrou um “você é tão doce” ao pé da orelha dela, mordendo o lóbulo delicadamente. A respiração dela ofegou e a outra dobrou o corpo num espasmo de gozo, mas ela não tinha desistido – “quero provar o teu gosto novamente.”
Beijou a nuca dela, sua boca, seus mamilos, e finalmente seu sexo. E pensou em tudo que gostaria que os homens fizessem quando estavam naquela situação. “Não vai ser nada difícil, pelo contrário”, ela pensou – e deu início à exploração. Com sua língua e sua boca tocou cada pedacinho escondido do sexo dela, enquanto ela pedia, implorava que continuasse. E era uma explosão de vermelhos sob suas pálpebras semicerradas, vermelho ouro, carmim, escarlate, vinho, cobre, sangue! Precioso sangue, que gritava em suas veias o desejo por aquela mulher vermelho ouro, ela toda como uma jóia inesperada, como um presente por seu mau comportamento, por seu bom comportamento, por seu não comportamento. Eram só as duas no mundo inteiro, o universo sob as águas do dilúvio e elas duas fazendo amor como se sempre o fizessem, como se fossem uma mesma pessoa em cores diferentes – ela tão castanha e acobreada, a outra tão branca, vermelha e dourada – como num catálogo de uma coleção do Antonio Bernardo: uma jóia em duas versões.
Não saberia dizer por quanto tempo ficaram ali, primeiro satisfeitas, depois insatisfeitas novamente, então famintas e novamente saciadas – uma da outra, a outra de si, as duas de espumante e fois gras.
Não saberia dizer por quanto tempo esperava por aquilo. Nem se aquilo era o que ela estivera esperando. Não saberia mais o que dizer de si. Sentia que devia abandonar todos os rótulos: não era hétero, nem lésbica, nem bissexual. E quando acordou no dia seguinte, aquela cabeleira vermelha deitada sobre seu ventre, a luz do dia infiltrando-se pelo quarto - por entre as dobras da cortina - revelando a luminosidade da pele dela, o perfume dela impregnado em sua pele, as duas partilhando ainda a mesma cama, o mesmo ar, ela teve uma epifania.
Era uma mulher apaixonada por uma deusa de ouro e sangue.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Outsider
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Eyes wide shut
Pensão completa
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
Insônia
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Conhecimento
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Aragem
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Walking backwards
sábado, 21 de novembro de 2009
Regra # 3
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Na chuva...
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Confissão
sábado, 31 de outubro de 2009
E.E.Cummings
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terça-feira, 27 de outubro de 2009
Lusco-fusco
sábado, 24 de outubro de 2009
Stairway to heaven
"As I climb the staircase - bare feet on the cold steps - I feel his gaze. Intense, and menacing... I’m his object of pray - and I love it."
Ele me olha. E parece estar me devorando. E não só a minha carne. Sinto pedaços da alma descendo por seu esôfago enquanto seus olhos – semicerrados – traçam veredas pelo meu corpo.
Ele é um desbravador. Um aventureiro. Seus caminhos já o levaram para longe tantas vezes... Mas ele volta. Aqui é o seu lugar de poder. E percebi dessa vez que seu poder ele drena de mim, da luz que escoa de meus olhos enquanto ele fala, lenta e languidamente, as histórias de suas andanças.
Talvez por isso ele volte.
Hoje não é diferente. A porta se abre para revelar um par de botinas enlameadas. As vejo antes de o todo – ele sempre chega quando estou terminando de limpar o chão... Já nem reclamo ou luto - ou fico indignada. Qualquer reação recebe a mesma resposta. O mesmo beijo bem beijado de quem sabe que jamais será rechaçado. E a culpa é minha.
Ele conta que caçou um javali, que escapou por um triz do bote de uma serpente, que quase morreu na mão de uma quadrilha de ladrões de carga em Modiana... Ele conta histórias. É através de suas histórias que eu viajo. Eu. Sempre aqui, nessa pensão, na beira dessa estrada, no limite entre esse e o outro mundo.
Ele senta à mesa do canto, perto do balcão, e passa o resto do dia – e da noite – observando o entra e sai de clientes, enquanto eu anoto e entrego pedidos, cobro despesas e dou troco, recebo mercadoria e pago aos fornecedores. Ele, a garrafa de Paraty, o cigarro de palha. E o cheiro doce do fumo de rolo enche a atmosfera já enfumaçada do salão, e de repente nem meus pensamentos nem minhas pernas conseguem manter seu rumo. É como um feitiço. Ele fica cantando sem emitir som alguma mandinga – e eu fico incapaz de mandá-lo embora.
Não tem por mim apreço nenhum em particular. Some por meses e não manda notícias. Quando morrer, não ficarei sabendo. Mas vou sentir sua falta o resto da minha vida. E ele nem dará por minha falta, se por acaso voltar um dia e não me encontrar aqui. Vai arrebatar quem quer que esteja limpando o chão.
Ele sempre fica no mesmo quarto. Se estiver ocupado, ele pede que a pessoa troque – e é sempre tão persuasivo que nunca houve quem lhe recusasse. É o quarto que fica no sótão dessa velha estalagem. Tem uma pequena janela de frente para o riacho que corre nos fundos – e para a destilaria de meu bisavô.
A primeira vez que ele me viu eu estava lá, no riacho, sentada nas pedras e lavando os pés na água gelada. Era lua cheia, e o terreiro estava prateado. O luar no céu e na água do riacho. Eu era pouco mais que uma menina. Ele ficou me olhando de lá, daquela janelinha, e desde aquela vez eu senti que ele estava me devorando inteira. Eu tive medo então, e tenho medo ainda. Sei que sou sua presa. E adoro sabê-lo.
Às vezes eu imagino que ele vai me levar consigo... Às vezes penso até em pedir. Mas temo demais o resultado dessa ousadia. Se ele por acaso gargalhar, e o seu riso perfurar meu coração? Eu caio dura, lívida, morta aos seus pés. Ele põe de volta o chapéu, passa por cima de meu corpo inerte e vai embora – ainda se rindo. Ele não tem sentimentos – ou talvez tenha. Mas não são por mim.
Volta porque a minha carne treme de desejo quando ele me toca, e cada vez que ele chega o meu corpo se abre como uma flor de maio. É uma dor aguda e ao mesmo tempo um prazer tão terno... E subo as escadas porque quero. Algumas vezes, antes do fim da noite, ele me segura pelo braço esquerdo, fecha assim com violência a mão direita sobre ele, e me puxa atrás de si, como se eu fora uma bagagem... E eu ainda finjo indignação, só prá ele dizer ao pé do meu ouvido que vai me comer de qualquer jeito, quer eu colabore ou não.
Às vezes parece transfigurado, fora de si. Olha para mim como se não me visse, beija meu sexo assim automaticamente, jorra seu gozo sobre o meu ventre e sai pela porta, transtornado como entrou por ela. Ele é febril nessas vezes, e diz coisas desconexas. Mas sempre me chama pelo meu nome. Elisa. Nunca me chamou de meu bem, nem de amor. Minha Elisa. E é isso que eu sou. Sou dele.
Outras vezes ele está inteiro. Nessas vezes me olha intensamente. E parece engasgado todo o tempo. Parece ter palavras presas na garganta – palavras que querem sair desesperadamente. Mas ele não deixa.
Esse homem existe somente para me torturar. E lá vem ele...
Nem olho duas vezes, nem discuto. Dou-lhe as costas e subo na frente.
Sinto seu olhar percorrendo o meu corpo, sinto o calor do seu desejo precedê-lo enquanto me segue. Sim, serei sua – ele o sabe, eu também sei.
Hoje, no entanto, vou prender algo dele dentro de mim. E ele vai me amar sempre – e para sempre terei algo seu para amar...
As regras do rolê
As regras do rolê são bastantes simples: Fode, mas não se apaixona. Se apaixonar, não fode mais, pra não se foder depois. Tudo o que te ...
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O ruído inconveniente às quinze para as seis da manhã me acorda muito antes da hora. Irritadiça eu sempre sou, ainda mais numa situação como...
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As horas nos teus braços são tão breves, O perfume do teu sim tão sutil, Que sinto o cheiro do não, exalando forte da caçamba lá na esquina,...
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E nem é da tua carne que eu sinto falta. A carne é importante, mas é de menos. Todo homem tem piroca, é um fato biológico, e nem importa ess...