domingo, 22 de agosto de 2010

Fogo

Dentro de mim há fogo. Um novo filho - ou filha - que chegará regido pelo fogo. Virá o fogo ao seio da minha família, um lar de terra e água, um lar sólido e fértil. O que o fogo trará até aqui?

Meu filho é fogo. Ele vem queimar meus medos e resíduos inflamáveis.

Eu sou água. Existo para aparar-lhe as arestas, para conter-lhe a fúria. Para amá-lo e saber perdê-lo.

Há um caminho de purificação para mim, através do fogo. Para ele, através da água.

Eu estou fluindo e ele flui. Ele chegou para mim sob o signo da força. Daqui a sete luas saberei o que sentir. Hoje ele cresce, tira de mim o que é para si. Amanhã, aprenderei com ele as estradas que sempre temi trilhar.

O mistério mais que decifrado da embriologia humana se desenrola em meu ventre. No coração, o mistério indecifrável do amor indefinível se reafirma em minha história. Eu já sou mãe.

E serei.



terça-feira, 17 de agosto de 2010

Súbito

Ainda é você em meus sonhos, nos lençóis onde jamais se deitou - ainda é você.

Passaram os dias. Transformaram-se em meses. Anos, até. E obviamente ainda chove nesta cidade onde vivo, onde persisto. Mas nunca mais houve uma enchente como aquela, querido. E eu sou transportada ao passado toda vez que a noite cai às três da tarde...

Sim, a vida seguiu e segue, eu sou feliz e não posso imaginar que estar contigo pudesse ser melhor que isso. Mas a mente vaga, e eu não sou capaz de refrear o coração. Ponto. E você sabe disso, sempre soube ler minhas entrelinhas e preencher minhas lacunas. Não que nossa história tenha sido lacunar. Foi breve e intensa, irresistível e poderosa. E sei também - foi necessária.

Nossas estradas se enlaçaram por um intervalo mínimo de tempo, suficiente para chacoalhar as nossas vidas e nos devolver ao mundo dos vivos. E eu nunca chorei tantas lágrimas inúteis num travesseiro. Tinha que terminar como começou.

Subitamente.


Balança

Eu pude senti-lo, enquanto retirava seu peso de sobre nossa cama - senti que se retirava de mim - corpo e alma.


domingo, 1 de agosto de 2010

Parafraseando Pessoa

Arre, estou farta de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?


Basta!

Estou farta da tua correção vernacular

Do teu conhecimento enciclopédico

E das definições dicionarescas dos verbetes

E expressões idiomáticas relacionadas

Ao amor!


Que sabes tu do amor, ó Deus

Sentado em teu pedestal marmóreo

Ouvindo os loás entoados, como mantras

Por tuas virgens vestais?

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As regras do rolê

As regras do rolê são bastantes simples: Fode, mas não se apaixona. Se apaixonar, não fode mais, pra não se foder depois. Tudo o que te ...