sábado, 12 de dezembro de 2009

Urdidura

"Ele é uma ameaça. Preciso neutralizá-lo - ou destruir sua reputação. Se eu não o fizer, ele vai acabar se impondo, mudando as coisas por aqui. E eu não quero isso. Não importa o que é melhor para a empresa. Empresa uma ova! E os meus interesses? E tudo o que eu batalhei para conseguir? Nada vai atrapalhar a minha vida. Nada vai mudar, a não ser que eu queira. Ele precisa cair - e sou eu que vou empurrar..."
Já fazia três semanas seu pupilo retornara de um período na matriz em Washington, para onde foi para um treinamento específico - e chegou cheio de idéias e disposição, falando em reestruturação administrativa, reengenharia produtiva, e toda essa baboseira neoliberal pós-yuppie, como se fosse o rei da cocada preta. E era. A matriz tinha um plano em andamento quando convocou a carne nova para o treinamento, tinha para ele uma missão: fazer o escritório paulista funcionar, dar lucro e expandir sua participação no mercado brasileiro. Eles não estavam satisfeitos com os resultados obtidos pela atual diretoria - ou seja, seu tutor e mestre.

Talvez isso fosse um problema ético para qualquer outra pessoa, mas o grande diferencial em seu caso era exatamente o que o tornara um profissional excelente – fora treinado por uma raposa velha, que agora estava se tornando uma velha raposa. O rapaz sabia do que seu mestre era capaz – era um adepto do bom e velho CHEAT, STEAL, MURDER – e sabia que o homem faria qualquer coisa para manter-se no poder. Mesmo que significasse destruir algo que ele mesmo ajudara a construir: sua reputação.

“A velha raposa está tramando algo – posso sentir o cheiro da maquinação no ar”, a atmosfera tensa e pesada no escritório sendo dissimulada por muitos sorrisos e gracejos, apresentações elogiosas e convites para longos almoços em plena terça-feira. Ele sabia que havia um objetivo por trás de tudo aquilo, e era claro para ele onde o outro queria chegar: ele queria distraí-lo de seu objetivo e armar alguma situação bem debaixo de seus olhos. Desacreditá-lo, quebrar a confiança que o pessoal da matriz depositara nele, derrubá-lo. “Not gonna happen, old man”, ele pensou. Se o mestre tinha seus métodos pouco ortodoxos, o aluno não somente sabia como também aprendera a jogar aquele mesmo jogo – e aprendera com o melhor. “Eu preciso descobrir o pulo do gato, aquilo que ele deixou de me ensinar. Eu preciso fazer o meu trabalho, doa a quem doer. E preciso isolá-lo, deixá-lo imobilizado. Se isso é um jogo, eu não quero perder.”
O tabuleiro pronto, as peças arrumadas. O torneio vai começar.

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