sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Atômica

Fomos plasmados no interior ígneo da mesma estrela, ele e eu. Da mesma matéria e do mesmo sopro. Fomos dispersados pelo universo quando nossa estrela-mãe completou seu ciclo, e por milênios vagamos, distantes anos-luz um do outro. Meus átomos ávidos por reencontrá-lo, os elétrons ansiando por novas ligações. Tantos elementos, tantas ligações covalentes, iônicas e dativas – e eu ainda em busca dele.


Completamos inúmeros ciclos biogeoquímicos, nos mais diversos sistemas planetários, formando tantas substâncias tão complexas, cada dia mais apartados – mas sempre juntos, porque da matéria de que fomos feitos, só eu e ele. Navegamos os ventos solares, minhas velas sempre escancaradas ante qualquer possibilidade de encontro. Nem sei quantos sistemas em quantas galáxias de quantos universos viajei em busca dele, ou por quantos ele viajou, fugindo de mim.


Um dia, um dia dentre tantos nessa infinidade de tempo transcorrido, num planeta qualquer de um sistema planetário em uma galáxia como tantas, novamente reunidos. A matéria de que sou feita vibrando como um diapasão, a energia gerada pelo próprio encontro – gênese de planetas – capaz de trazer à vida cada nível energético da minha eletrosfera. A mesma matéria nele, num uníssono cristalino, ressoando a sinfonia do encontro, amplificando seus acordes e enviando a mensagem a cada canto do espaço-tempo. E retraindo, encolhendo em sua concha, como se fosse errado permitir-se essa felicidade incontida.


Meus pobres elétrons desejando a ligação perfeita que os estabilizaria para sempre - um novamente - e os dele estagnados numa outra ligação covalente, tão frágil e ainda assim indissolúvel.


Sinto o colapso chegando, as forças fraca e forte desistindo de sua batalha crucial – como jamais poderia ser. Num instante, uma a uma, minhas partículas começam a colidir – e eu simplesmente permito que aconteça, a explosão da matéria convertendo-se em energia, tudo o que fui de espera e desejo, tudo que soube de mim logrado pela ilusão do encontro, tudo que ansiei e desisti desfazendo o que sou, numa fração de segundo: fissão nuclear.



Um comentário:

Anônimo disse...

Você precisa colocar seu lado científico mais para fora. Olha que pérola vc produziu. Sou sua fã, vc sabe. Glória, a Celest

As regras do rolê

As regras do rolê são bastantes simples: Fode, mas não se apaixona. Se apaixonar, não fode mais, pra não se foder depois. Tudo o que te ...