quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Estranhamento

Essa mulher que me olha do espelho - eu não a conheço. Ela é muito mais velha que eu, tem olhos profundos e linhas que contam uma história em torno deles. Tem cabelos brancos em profusão brotando-lhe do topo da cabeça, crescendo em comprimento enquanto sua idade avança.

Essa mulher que me olha do espelho - eu a estranho. Ela me olha com doçura do fundo dos olhos, e vejo nela a labareda que incendeia o meu interior. Essa mulher doce é água, mas há dentro dela fogo. Ela carrega o fogo na alma e no ventre, e sua fala suave transparece conteúdos que me são familiares - e tanto me incomodam quanto atraem.

Essa mulher que me olha do espelho - eu a acolho. Ela cuida de mim como eu cuido dela. Há amor em cada passo que ela dá, na maneira apaixonada como se entrega à vida, na forma desprotegida como oferece seu coração. Ela entra na arena, e os leões avançam. E ela espera, sem mover-se um milímetro. Ela sabe que podem dilacerar-lhe a carne, até o coração - mas não podem extinguir sua luz.

Essa mulher que me olha do espelho - eu a amo. Eu sou ela. E ela sou eu.


2 comentários:

Ana Cristina Sousa disse...

Ameeeeeiiii. Ninguém extingue essa luz!

Cacris disse...

Maravilhoso!!! "Humano, demasiadamente humando." Bjs e saudades! Cássia

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