Todas as semanas aquele quarto de hotel testemunhava impassível ao encontro dos amantes. E a cada semana eles se esmeravam mais no jogo do amor. Um completava o outro perfeitamente. Era como se lessem os pensamentos um do outro, e já não havia espaço que não tivessem explorado, como se não houvesse fim para aquele desejo que era mais poderoso que a vontade dos dois. Já havia 15 anos, e eles ainda se queriam como então, como quando eram jovens e livres. Só não eram mais: nem jovens, nem livres.
Ela era mãe de dois lindos meninos. Ele, pai de um rapaz. Cada um com sua vida real, com sua família - e dividindo a dinâmica do parêntese. Era assim que ela chamava aquela segunda à tarde, há mais de uma década: parêntese. Era como uma vida paralela, uma ornamentação que conferia um colorido todo especial às suas vidas reais. O grande dilema nunca havia atingido aos dois, enquanto seus corpos entrelaçados dançavam segundo o ritmo - ora cadenciado, ora frenético - das segundas-feiras.
E no entanto, tal como ela já pressentia, dia de muito é sempre véspera de pouco... E não havia porque a vida poupá-la do grande dilema. Ela era feliz em sua vida real, sentia-se parte de algo vivo e pulsante enquanto preparava refeições e conduzia filhos e marido para seus compromissos, enquanto gerenciava a casa e punha ordem em seu pequeno sistema planetário.
Ele não. Vivia uma relação onde sentia-se oprimido e negligenciado, como se fosse acessório e não protagonista de sua vida em família. Hoje, 15 anos depois, o filho criado, ele não via porque deveria continuar ali, atado a convenções em que nunca acreditou. Ela não entendia porque, depois de tantos anos, ele não poderia simplesmente permitir que as coisas entre eles continuassem como estavam, como sempre estiveram.
Ele insistia em dizer que aqueles parênteses não atrapalhavam a sua vida. Ela já não acreditava mais. Ela lhe dizia que nunca saberia olhar para ele como um amigo. A mesa do grande dilema posta à frente deles, e nenhum dos dois tinha a coragem de pegar nos talheres e iniciar o banquete.
Talvez ela precisasse ter força pelos dois, dali para frente. Mas não cruzaria os braços, esperando da vida a resolução daquele problema. A vida lhe daria o que ela queria, simplesmente porque era assim que ela queria!
Levantou-se. Beijou-lhe a boca como sempre. Como desde sempre. Deu-lhe as costas e saiu porta a fora. Como nunca. Como nunca mais. Diante dele, sobre seus braços cruzados sobre o peito, um bilhete:
(Serei sempre tua, mesmo que você nunca mais me procure. Mesmo que esse quarto de hotel nunca mais testemunhe o nosso amor. Mesmo que você me diga que parênteses não são necessários: quem escreve a história da minha vida sou eu, e eu adoro parênteses...)
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