segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sorry, wrong number...

Havia três meses do reencontro acidental na fila de um supermercado. Ele tinha sido seu namorado na época do ensino médio - mesmo que não propriamente. Eles se pegavam pelos corredores da escola sempre que podiam, mas nunca foram ao cinema juntos, ou conheceram as famílias um do outro. Não seria agora.

Ela já tinha passado dos 40, ele era um pouco mais novo - pelas suas contas, talvez estivesse com 37, 39 no máximo. A vida os tinha levado por caminhos distintos, eles não tinham notícias um do outro - e nem tinham os mesmos interesses ou grupos de amigos.

Mas naquela fila de supermercado, quando ele esbarrou nela, o roçar da pele dele nela provocou aquela faísca incendiária de sempre, desde os tempos do colégio, e ela soube que era ele, sem nem precisar olhar para trás. Como era possível que isso permanecesse inalterado com o passar do tempo era um mistério para ambos. Mas era fato. Quando seus olhos se encontraram, tudo o que eles queriam era o que sempre quiseram - pular nos braços do outro. Só que havia complicações.

Ela estava com a filha no carrinho. Ele estava acompanhado da esposa. Havia pouco a dizer além de um desculpe desajeitado da parte dele, e preferiram agir como se não se conhecessem. Mas passaram a meia hora de fila se entreolhando discretamente, um medindo o outro a distância. E então ele aproximou-se dela, sob pretexto de ir buscar um refrigerante para a mulher na geladeira do caixa ao lado - e entregou a ela um pedaço mínimo de papel, um número de telefone e um e-mail rabiscados às pressas. O coração dela, disparado, mal conseguiu entender o que aquilo significava num primeiro momento - nem pode resolver o que fazer com o papel. Só percebeu que tinha ficado em sua mão na hora de começar a empacotar as compras. Não soube decifrar o quinto algarismo: seria um 7 ou um 1? E resolveu tentar o e-mail. Precisou pensar por algum tempo a respeito de seu conteúdo. E decidiu não fazer rodeios. Perguntou-lhe quando poderiam se encontrar para falar sobre os velhos tempos - e em seu íntimo sabia que ele entenderia perfeitamente suas intenções. Não havia empecilhos em sua vida. Ela estava separada há três anos, e na semana seguinte a filha iria viajar com o pai por duas semanas. Ela teria tempo para encontrá-lo, e tempo de sobra, uma vez que também estaria de férias.

Ele já estava angustiado quando recebeu o correio eletrônico. Sim, ele queria muito revê-la. Se não fosse problema para ela, podia ir até a sua casa uma tarde dessas, enquanto a menina estivesse com o pai. Resolvido o dilema, ele telefonou para ela - ela enviara o número do celular na mensagem - e combinaram que ele iria até ela na quarta-feira, dali a dois dias.

Nunca uma semana se arrastara tão morosa. Para ela o trabalho não rendia, a saudade da filha só era sobrepujada pela ansiedade. Ele passava o tempo refazendo orçamentos intermináveis para licitações e concorrências em que sua empresa participaria. Ela foi ao cabeleireiro, fez as unhas e foi à academia. Graças a Deus não era preciso concentrar-se nessas atividades corriqueiras - seus pensamentos vagavam, mas retornavam ao ponto inicial: o encontro de quarta.

Quando o dia chegou estavam aflitos. O dia não engrenava a segunda, dava meio-dia e não dava 11h. Era tudo uma perda absurda de tempo, e ele alegou uma indisposição às 10h, e disse a sua secretária que iria ao médico. Saiu do escritório determinado a não atrasar por nem mais um minuto o momento de estar com ela, tocá-la novamente - e talvez dar fim aquela tortura de esperar pelo momento antes de a hora marcada. Nem ligou para ela - e nem precisava. Desde cedo ela já estava de pé. Começou o dia com uma xícara de café às 6 da manhã e lá pelas 8 já estava na segunda taça de vinho. Insana, nervosa e alterada.

Ele tocou a campainha, e quando ela abriu a porta, não esperou por sinal algum. Enlaçou sua cintura num movimento rápido do braço direito, e com a mão esquerda segurou firmemente a nuca dela. Seus lábios colaram-se aos dela com violência. Ela tremia, completamente tomada por aquele gesto de loucura. Não havia tempo capaz de apartá-los, jamais houve qualquer coisa entre eles diferente daquilo - e aquela loucura os estava possuindo novamente.

Incapazes de decidir o que fazer, deixaram-se ficar ali, encostados no portal, a porta ainda aberta e ele meio do lado de fora. Quando finalmente o beijo terminou, ele perguntou, meio sem jeito, meio ousado:

- Posso entrar?
-Deve - ela respondeu. Ela nunca esperava por nada, e era direta. Ele sempre se encantou com isso nela. Aquela resposta tinha muitos significados - e ele entendera todos eles.

Serviu a ele uma taça de vinho. Sem palavras. Ficaram se olhando, assombrados e deslumbrados. Ela era quente e vigorosa. Era luz do dia o tempo todo aquela mulher, e ele se lembrava dela exatamente daquele jeito, mesmo que houvesse no mínimo dez anos desde a última vez que se viram. Ela escolheu o outro cara - mas também ele nunca assumiu nada, a história deles se desenrolara em off, como aquela vozinha chata de narrador de filme de criança. O outro deu a ela segurança e proteção, exibiu o prêmio que era aquela garota - e ficou com ela por mérito. Ele sabia que ela teria sido sua. E ela também.

Na verdade, ela sempre soube que aquilo não daria em nada - mesmo que tivesse tudo para dar certo. O cara vivia nas sombras. Ele era difícil e encantador aos olhos dela, e ela queria tanto aquilo... Mas ele era o tipo de cara ególatra e inseguro ao mesmo tempo, aquele cara que se acha merecedor de tudo, mas que no fim vai se contentar com pouco. Ela, ao contrário, queria tudo! E nem se importava se os outros iam saber ou não! Ele se preocupava demais com o que os outros iam pensar. Ela queria saber que era dele, enquanto estivessem juntos - fosse por cinco minutos ou uma tarde inteira. Ela só queria sentir-se desejada por ele. Mas ele nunca tinha bancado aquele desejo incendiário, nem para si mesmo. E ela simplesmente cansou. Durante algum tempo continuou orbitando a volta dele, gostava de observá-lo, via todo aquele potencial de homem, mas sabia que ele estava satisfeito. Sabia até que ele podia ter mais - mas era ele que não queria. Ele já achava diferente.

Para ele, ela é que devia assumir seu desejo por ele. Na época ele ficara magoadíssimo - e hoje, olhando para ela, percebia que tudo aquilo era uma bobagem. Ela estava certa então, e estava certa naquele momento. Não tinha pretensões com relação aquele momento - era uma mulher livre, e queria gozar de sua liberdade. Ela estava disposta a deixar o amor rolar caudaloso sobre ele - naquele instante contido no tempo - e depois voltaria para a sua vida calma e organizada, sem cobrar nada dele. Como antes. Como sempre.

-Excelente vinho.
-Das muitas coisas que eu aprendi com o casamento, essa é uma das melhores: Pinot Noir neo-zelandês...
-O cara sempre foi um pedante!
-Ele só sabia o que queria. Ele queria o melhor. Enquanto eu fui o melhor, a gente ficou junto.
-Foi ele que te deixou? O cretino...
-Absolutamente, meu bem. Ele não foi cretino. Ele só não me amava mais. Não havia motivos para ficar.
-E a menina? Não é motivo suficiente?
-Não. Ele é um pai excelente. E um grande amigo. E está feliz, o que aumenta muito a felicidade da nossa filha. Não julgue o homem só porque ele tem coragem de tomar atitudes, de buscar a sua felicidade. Eu não o julgo - e eu perdi mais que qualquer um...
-Mas ele tinha você!
-E sempre terá... Você veio aqui para isso? Small talk? A gente podia ter batido esse papinho no supermercado...

Como ela conseguiu cobrir a distância entre eles e a sua boca ao mesmo tempo, era um mistério. Ela não queria nada dele - e entregaria tudo, sem reservas. Ela era a mesma. E ele também.

-Pára. Não vai rolar assim, tão fácil.
-Então eu não sei para que você veio.
-Eu vim por você!
-Mas está julgando o meu ex, e me julgando, e falando de sentimentos - mas vai voltar para a sua esposa quando isso tudo acabar - Então, para que vai deixar o coração aqui, de presente? Posso trocar coração por ereção facilmente, querido. Só quero o que for verdadeiro. A mentira, é da porta para fora.
-Mas você sabe que não é mentira.
-A pele não mente. E a gente obviamente está perdendo tempo, uma vez que ter essa conversa não vai nos levar a lugar nenhum, mas pode atrapalhar esse dia consideravelmente.
Os dois ficam em silêncio, e o silêncio é esmagador. E é ela que rompe o maldito silêncio:

-Tudo bem, você escolhe.
-Escolho o quê?
-Papo ou sexo. Simples assim.

E ficaram se olhando. Ele sabia que perderia aquela chance. Era aquele o modus operandi dela. Decidiu não perder tempo. Podia ter passado a vida inteira sem nunca mais pôr os olhos nela. Mas não ficaria nem mais um segundo sem senti-la inteira em seus braços.

-A conversa pode esperar.

Ela só sorriu. Queria ter dito que fora uma sábia decisão, mas achou totalmente desnecessário. Estendeu as mãos na direção dele e recebeu seu corpo entre os braços, entre as pernas. Enlaçou completamente o homem, e ele deixou-se ficar por completo. Deslizaram suas mãos um pelo corpo do outro. Sem medo, sem pudor. Sempre tinham se amado daquela forma, e era incrível que depois de dez anos ainda quisessem as mesmas coisas um do outro.

A carne dela ainda era um misto de firmeza e maciez. Ela fora a única mulher que tinha essa textura na sua vida. Ele nunca pensou que uma mulher tivesse a textura perfeita. E seus dedos sabiam de cor os caminhos daquele corpo. Jamais esquecera do cheiro da pele dela atrás da nuca, da pele fresca, sem perfume além do sabonete do banho. Ficaria inebriado por horas, só lembrando dela, o seu cheiro nas narinas dele, bem depois de tudo terminado, depois até de ter ido para casa e se obrigado a fazer amor com a mulher. Quando sentiu que sufocaria de desejo afastou-se dela por um instante.

-Eu preciso olhar você.

Ela queria chorar, mas se conteve. Por que ele dizia aquelas coisas? "Ele nunca me amou" era seu pensamento recorrente, e de repente sentiu-se pequena e infeliz, como se sentia no passado. Mesmo depois do hiato, do afastamento, mesmo todos aqueles anos jamais puderam fazê-la esquecer da humilhação - e agora que a sentia novamente era como dar boas vindas a uma antiga amiga, daquele tipo que o tempo não obscurece. Era a velha dor... Ele estava ali, fazendo amor com ela. O corpo dele tremia e ele suspirava - mas era tudo mentira. Ninguém pode sentir assim e virar as costas no final. Ninguém pode desejar tanto e rejeitar na mesma medida. Ela repetira esse mantra em sua cabeça por muito tempo, e agora ele soava como microfonia em seus ouvidos - background noise.

Ele quedou-se olhando para ela. Só olhando. Que mulher linda... Ficava encantado com ela, sempre. E disse a ela, em voz alta, algo que sempre sentira, sempre quisera dizer - mas faltara coragem:

-Você é minha! Não sabe disso? Você é minha, vai ser minha sempre. Ninguém pode ter você! E é esse o motivo: você é minha e só minha, meu pequeno Sol vermelho e dourado, meu anjo, meu amor...

Ela deixou as lágrimas rolarem dessa vez, mas não deixou que ele as visse. Ele nunca tinha dito aquilo - e não precisava tê-lo disso naquele momento. Partiram-se as muralhas. Ela ouviu um ruído estrondoso dentro de si, quando finalmente vieram abaixo suas reservas. Ela era mesmo dele - e sempre seria. Ele era covarde, preguiçoso e não merecia aquele amor - mas amor não é questão de mérito e ela sempre seria dele. Sempre e nunca.

Fechou os ouvidos para aquele palavrório. Era tudo bem sem sentido, se ela olhasse objetivamente. Amor declarado fora do timing servia para quê, afinal? Para dar satisfação ao passado? Para fazer as pazes com os demônios interiores? Para nada! Não servia para nada, não solucionaria nada - e ela não queria nada daquilo na sua vida. "Enough of drama!", e ela pensou tão alto que não se surpreenderia que ele tivesse ouvido - mas também não se importava mais. Tudo o que poderia ter sido valia ainda menos do que tudo o que foi de verdade. E ela queria mesmo era curtir o momento.

Sim, ele tinha sido o seu melhor amante. "A melhor foda da minha vida"- era o que ela dizia às amigas, se lhe perguntavam - "foi um cara da época da escola. A gente se pegava, mas sabe como é: a gente era um pouco mais que amigos e muito menos que namorados... Na verdade, a gente nunca foi amigo! Se eu sei dele? Não... Viu só? Se a gente fosse amigo teríamos mantido contato. Não fazia sentido, depois que comecei a namorar meu marido..."

Ah, ele sempre negou qualquer envolvimento com ela. "Eu e ela? Não! A gente não tem nada em comum... Eu até acho ela gostosa e tudo, mas sabe como é... Quando você fecha com uma garota perde um monte de oportunidades, e tem muita mulher no mundo, né não?" E anos depois, quando reencontrava os amigos daqueles tempos, a conversa recaía sobre ela. "Porra, cara, sabe que eu nunca mais ouvi falar dela? Ah, deve estar caída, né, sabe como é: casou com aquele mala, deve ter tido uns três filhos... Uma mulher como ela se acaba legal..." Como desdenhava dela! E como desejava saber se tudo aquilo que imaginava era verdade, se ela ainda era casada com o mala, se ainda pensava nele... Era um estúpido e sabia disso. Mas agora era tarde, e a tarde avançava rapidamente enquanto eles lutavam entre os lençóis da cama dela, suor e sêmen pontilhando a paisagem da cama, o brilho intenso dos olhos dela sempre nele, e ele no centro do mundo, como sempre se sentia quando estava com ela. Exaustos, trêmulos e satisfeitos.

Ele era homem, e sempre gostou muito de sexo. Mas aquilo era uma merda, sentir-se nu na cama de uma mulher que não era a sua. Ela tinha a capacidade de expôr muito mais que a carne dele quando faziam amor... "Amor não, sexo. Sexo, cara! S-E-X-O. Tira isso da cabeça, você tem um compromisso, você empenhou a sua palavra, não vai se queimar só porque essa mulher é incrível e te faz sentir incrível. E daí se ela pode ser a melhor coisa que já aconteceu na sua vida? Você tem princípios..."

Ela nunca ligou para convenções. Sempre fez sexo com quem quis e nunca deu satisfações a ninguém. Mas aquilo era o fim! Eles tinham se amado com loucos uma tarde inteira, e ela tinha visto estrelas nos olhos dele. No fundo da sua mente, ela sabia que ele a amava. Mas para que isso lhe servia? "Eu não preciso me expôr aos caprichos dele. Olha só para ele agora, eu até consigo ver a mudança de expressão... Ele está guardando o amor nas gavetas, olha só a cara de canalha que ele faz! Será que ele pensa mesmo que pode me enganar? A mim? Eu não quero isso, eu não preciso disso. O que eu quero é tão pouco - e nem isso ele vai me dar. O que me importa se eu amo esse cara? Eu vivi dez anos sem ele. Posso viver toda a minha vida..."

Ela se levantou da cama. De costas para ele, disse:

-Vou tomar um banho.
-É, eu também preciso de um. Está ficando tarde...
-Pega uma toalha no armário embaixo da pia. Pode usar o meu banheiro, eu tomo banho no outro.
-Toma banho comigo... Ela virou-lhe para ele, os olhos pegando fogo:
-Para quê? Quinto round?
-Quem sabe...?

No chuveiro, ele pegou o sabonete e lavou o corpo dela. Ele precisava tocá-la mais um pouco, guardar na lembrança o toque delicado de sua pele, os cabelos anelados, os olhos amarelos de gata, tão ardentes a minutos atrás... Agora estavam nublados. Ele sabia que ela tinha lido seus pensamentos - e que agora não era o amor que fluiria para ele. Era algo mais sombrio, acre, amargo até - mas tão delicioso quanto o resto, e ele queria assim mesmo. Ela o estava desprezando naquele momento. Sentia um misto de raiva e decepção que podiam rasgá-la ao meio! Mas ela ainda iria gozar mais uma vez, e queria certificar-se de que ele atenderia seus desejos...

Foi uma transa áspera e molhada, desajeitada e quente ao mesmo tempo, e se estendeu para a bancada da pia e de volta para a cama. Quando gozaram pela última vez, ela se levantou e voltou para o chuveiro. Lavou-se com um esfregão, até a pele ficar vermelha. Ele entrou no chuveiro quando ela saiu. E deixou-se ficar um pouco mais - não queria que ela visse as lágrimas...

Ela fez um café bem forte, e eles beberam em silêncio. Esse silêncio estava cheio de raiva, mágoa, tristeza, dor, saudade, desejo e amor. Não se olharam. Na verdade, esforçaram-se para não fazê-lo. Era uma despedida.

Ela o acompanhou até a porta, ainda em silêncio. Pode ver com o canto dos olhos uma lágrima escorrer dos olhos dele. Respirou fundo. O coração tropeçou dentro de seu peito. Perdeu por um segundo o controle e quis atirar-se nos braços dele. Quis dizer que não se importava com nada, com a mulher e a vida dele, se ele pudesse ser totalmente dela como tinha sido aquela tarde vez ou outra. Conteve-se (a raiva ainda era muito nova). Ele fungou discretamente. Fingiu ter se engasgado. Estava tarde, tinha que ir. Ela abriu a porta para ele, e ele a fechou. Segurou sua mão direita e a colocou sobre seu coração. Envolveu o corpo dela num abraço forte, firme. Deixou que o tempo passasse, que a raiva dela invadisse o seu coração. Queria que ela o ferisse como ele a ferira, e ela o estava ferindo. Seu abraço veio frio, triste - partido como o seu coração. Ele olhou para ela mais uma vez. Longamente. E permitiu que ela se retirasse do seu abraço.

Beijaram-se. Ela abriu a porta. Ele escapuliu para o lusco-fusco do corredor. Ela ficou encostada na porta, ouvindo atentamente os sons que o levavam para longe. Quando finalmente o elevador chegou e ela ouviu o ranger da porta se fechando sobre ele, deslizou seu corpo para o chão, soluçando. Sempre. E nunca.

Já faz três meses. Desde então, ele acompanha sua vida, de longe. A vê passando pela rua onde mora, sabe seus horários de cor. A menina é a cara dela, e ela tem uma vida tranqüila e feliz. A luz dela ainda brilha clara, como antes, como sempre. Nunca mais viu seus olhos nublados como naquela tarde de maio em que fizeram amor como antes, como sempre.

Sempre e nunca.

Ela ainda pensa naquela tarde. E chora baixinho no travesseiro, depois que a filha vai dormir. O colchão tem o cheiro da pele dele, de seu suor, sua semente. Dentro dela outro ser germina - um irmãozinho ou irmãzinha para sua filha - mas ele nunca vai saber. Ele não mais procurou por ela, mas ela sabe que ele a tem seguido - ela já o viu pelo retrovisor no trânsito. Mas, por precaução, trocou o número do telefone. Ela está resolvida a manter as coisas desse jeito. Ele tem razão em uma coisa: ela é dele, e ele é um dono muito negligente. Mas ele nunca mais vai pôr as mãos nela.

Nunca. E sempre.


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