quinta-feira, 8 de abril de 2010

Madrepérola

Sexo não era exatamente sua especialidade. Nem gostava muito de sexo. Gostava de como se sentia quando praticava sexo. Sim, era uma prática - como ioga ou corrida. Uma prática na qual pode-se melhorar o desempenho, e que exige disciplina - mas no final, qualquer um pode tornar-se bom nisso.

Se havia uma coisa inigualável no sexo não era o prazer que ele proporcionava. Ela sentia muito mais prazer degustando sorvete de doce de leite argentino ou ouvindo um LP de Miles Davis num dia chuvoso - e essas duas coisas podia muito bem fazer sozinha. Aliás, suas melhores experiências sexuais foram solitárias, mesmo quando havia outra pessoa com ela. A sensação de esvaziamento, de abandono absoluto, estava para ela diretamente relacionada ao orgasmo. Solidão.

Particularmente, ela gostava de gozar da companhia de outras pessoas, de partilhar suas peculiaridades com outros seres humanos. Mas nunca sabia se suas pequenas pérolas, suas idéias originais e secretas eram perfeitamente assimiladas por seus eleitos, uma vez que ela jamais entregaria seus tesouros a qualquer um... Só imaginava que a verdadeira comunicação era algo inatingível - e não seria ela que desvendaria mais esse mistério.

Amava as pessoas apaixonadamente. Completamente. E seu amor é intransitivo, inflexível. Bastava-lhe amar - ser amada não era prerrogativa sua. Era opção do outro.

Somente uma coisa lhe agradava no sexo. Poder dar-se ao outro, sem perder-se de si. Esse poder sempre fora fascinante aos seus olhos, e gostava especialmente quando o outro não fazia esforço algum. O poder sobre o gozo do outro, sobre aquele instante de prazer ínfimo e infinito em que cabia todo o universo.

E mantinha os olhos abertos, bem abertos, para não perder de vista o momento exato em que o outro explodia entre suas pernas, derramando-se dentro dela como um rio, escorrendo caudaloso por seu corpo, ou descendo garganta abaixo, ou espalhando sobre seu ventre, seus seios, sua pele a semente gorada de seu desejo másculo. Curvado sob seu desejo, o parceiro parecia-lhe menor, e ela mesma se convertia em uma deusa de mármore e cobre, potente, gigante e invencível.

Era Diana, a deusa caçadora, cavalgando seu garanhão veloz e destemido pelas estepes. Era Vênus, vaidosa encarnação do amor. Era Atena, sábia e astuciosa. E era também somente uma mulher.

Com uma deusa entre as pernas.

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