quinta-feira, 2 de julho de 2009

Negro

Sua pele negra como a noite era o que mais perturbava seus pensamentos. Desde a muito, desde sempre. Apareceu de novo por acaso. Já fazia cinco anos que não se viam. Ele tinha se mudado para Istambul, a trabalho. Conseguiu seu telefone novo. E ligou.

- Bom dia, posso falar com a Ana?
- É ela.
- Olá querida! Você sabe com quem está falando? - seu coração adivinhou antes que sua mente atinasse.
- Não... Peraí. Leonardo?
- Querida, você lembrou! Quanto tempo. Que saudade...
- Nossa, Leo, como você me encontrou?
- Achei seu telefone - Era mentira. Ela estava casada há três anos. Aquele telefone não existia quando ele viajou.
- Que bom! Que novidades você me conta?

E a conversa se estendeu por uma hora. Ela estava casada, tinha dois filhos - casou-se com trinta, não quis perder tempo. Ele não tinha filhos, mas também estava casado. Aquela informação foi um balde de água fria. E ela relaxou. Ai a conversa fluiu. Ela imaginou que enfim poderiam ser amigos. Durante os dez anos em que mantiveram contato, nunca foram nada - mas foram tudo um para o outro. Eram amigos, amantes, namorados, confidentes. Conversavam sem trocar palavras. E agora, de repente, o encontro telefônico trouxe à tona sentimentos a muito esquecidos. Ela se pegou várias vezes pensando se não seria melhor que ele não a tivesse procurado. Ela não precisava dessa distração. Não agora.

Ela vivia bem com o marido. Mas ele estava sempre viajando. E ela sentia falta de sexo. E aquele homem era sexo bom garantido. Por outro lado, pensou que depois de tantos anos, ela mais velha, o viço da juventude dando lugar inexoravelmente à maturidade... Por que aquele homem, aquele deus de ébano, iria quer alguma coisa dela que não a amizade?

Ficou no ar um almoço, dia desses. E ela pensou que ele esqueceria. Mas não esqueceu.
- Alô.
- Oi, minha linda... Um sorriso na sua voz, e uma sensação leve na cabeça dela.
- Oi, Leo. O que você manda?
- Não mando nada, só peço. Quando você pode almoçar comigo?
- Amanhã eu só trabalho pela manhã. Pode ser?
- Com certeza. Te pego no teu trabalho meio dia.
- Combinado.
- Um beijo bem gostoso para você...
- Outro, querido.

As pernas moles. "Meu Deus, o que está acontecendo comigo?" Ela perguntou, mas sabia a resposta. Marcelo estava em Aracaju há dez dias, e só voltava na semana seguinte. "Isso vai ser difícil..."

E ela mal conseguia comer. Desde o telefonema ela não pensava em mais nada. E ele a tinha convidado para um almoço. Seria um vexame não comer nada num almoço.
- Olá, linda!
- Oi, querido...
- E então, o que você quer comer?
- Ah, não sei. Tenho estado meio sem fome... Sei lá, muito trabalho, as crianças e a casa... - tantas explicações. "Para que você está se explicando, criatura?"
- Sem problema. Então a gente dá uma volta, conversa, bota a vida em dia. Que tal?

Ele lá tão confiante, e ela um caco, toda insegura. Era difícil sustentar o olhar dele. Ele falava macio, devagar, e olhava para ela. Como ele a olhava! Já estava até meio tonta quando ele parou o carro no mirante da Niemeyer.

-Nossa, os anos não passam para você! Como você consegue?
- O quê?
- Continuar assim tão linda cinco anos e dois filhos depois...
- Depois do quê? Perguntou, desafiadora.

Ele não respondeu. De um bote, segurou seu rosto entre as mãos e beijou-lhe a boca. Naquele beijo todas as expectativas se dissolveram. Era o que sempre fora. Nunca seriam amigos, nunca seriam indiferentes um ao outro. Ele seria uma pedra de tropeço na sua vida até o fim. Enquanto as línguas se tocavam, os corpos se reconheciam. Seus braços envolveram o corpo dele, a princípio com cuidado, depois com a intensidade de antes. De sempre. Ele devolveu o abraço com vontade. Depois do beijo, os olhos não se deixavam mais.

- Por que, Leo? Por que você fez isso?
- Por quê? Você sabe a resposta, querida...
- E você se esquiva de responder. Como sempre. - Ele passou as mãos na cabeça, exasperado.
- Por que você força essa barra?
- Esquece, Leo. Isso você nunca disse, nem vai dizer. Nunca.

Ele podia ver em seus olhos a decepção. A mesma nuvem escura que escondia o brilho de seus olhos dourados toda vez que estava triste. Por que ele tinha aquele talento para entristecê-la? Ele tinha se prometido nunca mais fazê-lo, mesmo que nunca mais pudesse pôr os olhos nela. Mas não conseguiu cumprir essa promessa. Desde que voltara ao Brasil, só pensava nela. Mulher terrível. Era como criptonita. Todas as defesas dele no chão. Por que ela não entendia que ele não podia se expôr daquele jeito? Ela sempre foi irresistível. E sempre soube disso. Mas precisava escutar. Precisava arrancar aquilo dele. Maldição de mulher!

Ela percebia a frustração dele. Um momento antes os dois tinham estado tão próximos! Como se nunca apartados. E ainda assim, depois de todos aqueles anos de exílio, nenhuma notícia, no postcards, not a hint of memory, e ele queria que ela tivesse deixado de ser ela? Era atrás dela que ele viera, e ela era a mesma. Ontem como hoje. Ninguém muda, de verdade. Só aprende novos truques. Da mesma forma, sua esquiva hoje era como sempre fora. Ele nunca disse. E jamais diria. Maldito homem! Negro como a noite, acendendo aquela fogueira em seu corpo, aquela tormenta na sua alma. Aqueles olhos verdes, aquele mistério, ele a amava. Ela saiba disso. Sempre tivera essa certeza, sempre sentira isso. Mas ele nunca diria. Maldito homem.

- Vamos embora? - Ela perguntou, mas soou como um comando.
- Você vai fazer isso mesmo, Ana? Vai fugir do que aconteceu aqui?
- E o que foi que aconteceu aqui, Leo? Você mais uma vez me ofereceu uma coisa que não pode me dar. E foi. Só que hoje a história é outra, meu caro. Eu sou casada, mãe de duas crianças lindas, tenho uma vida tranqüila, sem sobressaltos. E para que eu ia querer essa distração na minha vida? O que há para mim nessa história?
- Você sabe a resposta, mulher! Como não saberia?
- Simples: você nunca me disse.
- Se é assim, acho que devo jogar fora esse seu maldito telefone! E deu um trabalho enorme para conseguir, você tem noção? - Ela tinha. Nenhuma das amigas comuns daria o telefone a ele assim, fácil, fácil. Devia ter custado muita conversa.
- Ok, dear. Do it. And leave me be - ela virou-se para ir embora. Ele segurou seu braço.
- Volta aqui, querida. Por favor... Você vai embora assim, a gente nem começou...

Ele a puxou para junto. Ela não conseguia respirar. Outro beijo. Outra vez. Ela sabia que não havia como escapar. E o motivo era um só: ela queria tanto quanto ele. Depois de muitos outros beijos, entraram no carro, sem trocar palavra. Ele perguntou:

- Quer que eu te leve para casa?
- Vamos acabar logo com isso, ok? Me leva para o motel.

Ele ficou meio magoado. Não era mesmo só isso que ele queria dela. Nunca fora. E ela insistia em fazer aquilo - sempre. Era como se tudo não passasse de sexo para ela. E se fosse isso mesmo? Maldita mulher.

Entraram naquele motel famoso. Ela não demonstrava nenhuma ansiedade. Por dentro, sentia todos os seus órgãos tremendo. Estacionado o carro, ele saltou para abrir a porta para ela. De repente não sabia se era uma boa idéia. Sentiu-se intimidado. Seu olhar gélido, seu corpo entregue. Como ela conseguia se fechar assim? E por quê?

No quarto, no entanto, outra mulher. A muralha abaixo, acesos os olhos de ouro, os cabelos castanhos, espessos e anelados roçando o rosto dele, seu perfume, seus beijos como se lembrava deles. Ela atacou antes que ele pudesse fazê-lo. Sentou-o na beirada da cama, sentou em seu colo, abriu-lhe a camisa, tocou seu peito enquanto beijava sua boca. Era rastilho de pólvora. Seus beijos incendiários, seu toque entorpecente. Era ela. Ela.

Ela sabia que ele gostaria que ela tomasse a iniciativa. Isso sempre o excitava. Nunca pudera apagar da memória suas preferências, como se o esperasse de volta. De volta para ela. Ela tirou-lhe as roupas, mas deixou que ele a despisse - ele sempre gostou disso, e ela não podia reclamar: ele dava atenção a cada parte desnudada.

- Branca! Sempre tão branca, minha linda! Eu adoro cada parte do teu corpo. - Ele falava as coisas mais lindas enquanto a beijava inteira. Ela quase não tolerava a espera. Mas forçou-se a isso. Precisava aproveitar aquele momento. Ele, ali, agora. O resto não importava.

- O contraste... Eu e você. Parece que eu vou explodir de tanto tesão, Ana.
- O que você está esperando, então? - ela sorriu. Ele desistiu de segurar a onda. Fazer durar uma ova! Fazer de novo, depois. E repetir.

Penetrou seu corpo de uma vez, o pau já doendo de tanto tesão. Era quente, como ele se lembrava. Até mais. E úmida. Tão molhada, ele deslizava dentro dela, tão gostoso... Sabia que precisava parar, ou ela ficaria na vontade. Ela nunca tinha ligado para isso. Era uma questão de poder, ele sabia, fazer um homem perder o controle. Mas não faria isso com ele hoje. Ele saiu de dentro dela. Ela ainda tentou agarrá-lo, as pernas entrelaçadas em suas costas. Ele desvencilhou-se e desceu por seu corpo até estar de frente para o crime. Olhou para ela. Estava tensa, na expectativa. Ele nunca decepcionava. Sua boca cobriu-lhe o sexo com fome. Sua língua, seus lábios. "Cara, você sabe fazer isso!" Lentamente, suavemente, até que ela explodisse. E ele não tinha pressa. O gosto dela, tão apetitosa! Que mulher deliciosa! Podia comer-lhe a boceta o dia inteiro, se fartar daquela fruta suculenta, lambuzar a cara toda, sentir seu cheiro... ele ia gozar enquanto a lambia. Não podia mais segurar. Ela gozou. Ele gozou. Beijaram-se.

- Meu Deus, isso é incrível! - ela disse, sem fôlego. Então, ele a olhou nos olhos. "Danem-se as defesas!"
- Ai, Ana... Como eu te amo. Eu sempre te amei, minha linda.

Nenhum comentário:

As regras do rolê

As regras do rolê são bastantes simples: Fode, mas não se apaixona. Se apaixonar, não fode mais, pra não se foder depois. Tudo o que te ...