sábado, 21 de novembro de 2009

Regra # 3

"Eu sou um homem. Como mulher nunca fui exatamente um sucesso. E é por isso: sou um homem."

Enquanto dirigia para casa, no fim de mais uma semana de trabalho, ela pensava sobre os acontecimentos daquele dia, e mais precisamente dos últimos três meses de sua louca vida... E chegara a esta conclusão. Nunca ouvira falar de uma mulher capaz de fazer o que ela vinha fazendo, com regularidade, nas semanas que sucederam o congresso de Cirurgia cardiovascular em Amsterdã.

Ela estava acompanhando o marido. Ele era um cirurgião renomado, seus trabalhos publicados nas melhores revistas da área, havia trabalhado recentemente em uma colaboração internacional que desenvolveu uma nova técnica de transplante - e dessa vez iria palestrar. Ela sabia exatamente porque tudo aquilo estava acontecendo na vida dele: ele tinha suporte permanente. Sim, é um homem talentoso, genial até - mas quantos talentos são desperdiçados no mundo por falta de suporte? Quantos caras acabam abrindo mão de suas pretensões intelectuais, acadêmicas, profissionais, até pessoais pelo dever de prover a família, dar conforto e segurança à mulher e filhos? Ele chegaria onde chegou sem tê-la ao lado, segurando as responsabilidades familiares, domésticas, logísticas até? E dividindo a provisão, é claro - ela jamais poderia onerar a família...

Tudo isso pesava sobre ela - mas ela estava desistindo de queixar-se. Afinal, ele era um bom homem, um bom marido, um bom pai. A falha no quesito companheirismo - mesmo em se considerando todo o seu peso - não chegava a abalar a média dele. Era uma boa média, enfim. E ela já ouvira mais de uma vez de seus amigos que não se pode exigir demais das coisas, que as pessoas tem seus limites, e que ela devia aprender a lidar - e mesmo aceitar - os limites dele. "Ok, vocês venceram." Mas ele não deveria também saber ligar com os limites dela? Aceitá-los, até?

Era a noite do coquetel de abertura do congresso. Ela ficava esquecida nessas situações, flanando entre bandejas de canapés e prosecco, sorrindo quando solicitado, postando-se ao seu lado, a imagem da mulher perfeita - e aquele turbilhão de sentimentos e - porque não admitir, ressentimentos - dentro dela fervilhando, como a feijoada na panela de pressão, forçando passagem para fora pela tampa... E escapando suavemente, fazendo um chiadinho mimoso... "Arre, já deu!" Escusou-se do marido, balbuciou algo sobre dor de cabeça e saiu pela direita, como o Leão da montanha...

Sentou-se no bar do hotel. Precisava de uma dose de scotch antes de subir ao quarto. E então ela o viu - e o reconheceu imediatamente! Era um seu ex-namorado, eles já não se viam há alguns anos, ela não podia lembrar-se quantos. Ele se aproximou, conversaram, descobriram as novidades um do outro. E descobriram que nada daquilo importava. Não falaram sobre as sensações que estavam experimentando naqueles minutos de conversa, e não lhe pareceu conveniente continuar ali, dando bandeira no lobby do hotel. Desculpou-se com ele também, disse alguma coisa sobre ter um dia cheio no dia seguinte, e subiu - não sem antes beijá-lo. Ela tinha tentado o rosto, mas ele ofereceu a boca - e foi um beijo como os outros, do passado comum. Desvencilhou-se dele e subiu. Excitadíssima.

Não pode conter-se e masturbou-se no chuveiro, enquanto a água morna lambia seu corpo e a fazia pensar na língua dele pelo seu corpo, no esperma dele jorrando sobre sua barriga. Ficou louca de desejo, e sentia que ele provavelmente estaria naquele momento em seu quarto, fazendo a mesma coisa... "Ai, ele me tira do sério, esse homem. Como pode o tesão resistir tantos anos, quando a paixão já está morta - ou pelo menos adormecida..." agora não saberia mais dizê-lo. Deitou na cama, mas não conseguia dormir. Ficou agitada, e depois de rolar por alguns minutos, abandonou as tentativas e resolveu descer para a piscina. Deixou um bilhete para o marido: "Não pude dormir. Estou na piscina. Bj".

Mergulhou na água fria da piscina, arrepiou-se e permitiu que o corpo se adaptasse a temperatura. Deu algumas braçadas. E não conseguiu relaxar. Afundou e tentou manter a apnéia, o máximo possível. Veio à tona e encontrou seus olhos, fixos nela.

- "Não pode dormir?"
- "Não."
- "Nem eu..."

Ela observou paralisada enquanto ele entrava na água, descendo pelas escadas para não quebrar o contato visual. Ela sabia estar presa nele como uma mariposa, atraída pelo olhar penetrante da serpente. Não saberia evitá-lo. E então nem tentou.

Suas mãos tocaram o corpo dela com firmeza. Envolveu sua cintura e abraçou-a forte. Sua boca cobriu a dela e tirou seu fôlego. As mãos dele desfizeram o laço da parte de cima do biquíni, tocaram a pele dos seios, e os mamilos sentiram as pontas de seus dedos, depois sua língua - exatamente como ela se lembrava. Ele a virou de costas, e explorou seu torso e suas costas, as mãos percorrendo seus seios enquanto os lábios beijavam e sugavam a pele e as pequenas sardas das costas, a língua se insinuando em suas orelhas e os dedos acariciando seu sexo por sobre o tecido elástico do biquíni, e ela sentindo a rigidez do seu pênis forçando a base da sua coluna.

Como que desperta do transe, finalmente suas mãos tocaram o corpo dele, suas unhas bem cuidadas arranhando a pele de suas pernas, apalpando sem pudor o sexo dele, deslizando a palma da mão pela barriga e passando os dedos por dentro da sunga, acariciando sua glande com a palma da mão e ouvindo seu gemido de prazer ao seu toque. Ele retribuiu tirando seu biquíni e tocando o sexo dela. Ele gemeu e sua respiração ficou mais ofegante quando percebeu a que ponto sua excitação havia chegado. Molhou seus dedos dentro dela e provou seu gosto.

-"Você ficou mais gostosa ainda... Preciso sentir esse gosto na minha língua inteira..."

E ela não protestou quando ele levantou seu corpo até a borda da piscina, deixando o sexo dela na altura da sua boca. Ele era um especialista em sexo oral naquela época em que se conheceram, e ela não podia mais esperar para sentir seus lábios e sua língua dentro dela, lambendo, mordiscando, comendo... Ele parecia ouvir seus pensamentos, e a chupava com tanta perícia que ela gozou quase instantaneamente.

Os olhos dele procuraram os dela, fixando-se neles. Sem dizer palavra, sustentou seu corpo pelos quadris, e a deslizou, as pernas abertas, para a penetração vigorosa, o seu pênis tão duro que ela sentia sua pulsação dentro dela. Não demorou muito ele também gozou, num jorro veloz, o pênis encostado em sua barriga, espalhando sêmen por sobre seu abdome.

Ainda ficaram ali, imóveis, curtindo o momento, mal respirando. A ela parecia que aquilo viera bem a calhar - e não havia a menor necessidade de conversarem sobre o tinha acontecido. Ele quebrou o silêncio levantando-se, enrolando o corpo numa toalha e pegando um roupão para ela.

- "Quer me encontrar de novo, no Rio?"
- "Por que não?"

Então trocaram telefones, ela lhe disse que só estaria de volta dali a duas semanas, ele voltaria no dia seguinte - e despediram-se com um beijo suave, "beijo de aeroporto" - ela pensou.

Ficou ali por mais alguns minutos, depois levantou-se também, para subir. Descobriu que seu biquíni não estava lá. "Cretino, levou um souvenir..." Rindo com a ideia, foi para o quarto, tomou um banho morno e deitou ao lado do marido, que nem se mexeu. Ela pensou no que o namorado dissera, antes de ela contar sobre a viagem: "ele te trata como se você fosse um bichinho de estimação, como um peixe, a quem nem ao menos se precisa demonstrar afeto! Eu não sei como você consegue viver com ele! E agora mais essa: Lua de mel! Você é uma Pollyana mesmo..."

É, ela tinha um namorado... E isso ainda sublinhava com um marcador luminoso a sua "masculinidade". Era nisso que pensava agora, e fora nisso que pensara naquela noite em Amsterdã, antes de entregar-se ao sono.

Ela estava perdidamente apaixonada pelo seu professor de canto. Havia muito tempo que não cantava, e resolveu entrar na aula de canto para relaxar, ter um hobby. E lá estava ele, o único homem capaz de fazê-la sentir-se ao mesmo tempo tudo e nada. Nunca se sentira insegura a respeito dos sentimentos de um homem por ela. Até conhecê-lo, apaixonar-se, seduzi-lo - e deixar-se seduzir. Com ele, ela vivia numa montanha-russa de emoções desenfreadas. Ele era tão casado quanto ela, e inicialmente ela tinha pensado que esse era o "ingrediente X" do possível romance. Assim ambos estariam protegidos - os dois tinham tudo a perder... E, no entanto, ele fazia estragos constantes em sua auto-estima, jogava em sua cara as coisas que ela escondia até de si mesma! E ela tornava sua vida conjugal um problema. Ele lhe dizia que agora os pequenos conflitos domésticos pareciam terríveis, as discordâncias abriam abismos entre ele e a mulher, e que ele, que sempre se sentira solitário - onde quer que estivesse - agora sentia-se completo, porque ela o fazia sentir-se completo. Eles tinham tantos conflitos... Ela sentia que não podia ser feliz com ele - e jamais seria feliz sem ele. Um impasse.

Viajara tão triste por ter que deixá-lo... Ele não entendia por que ela precisava ir com o marido, não queria que ela fosse, e disse que não iria mais vê-la se ela fizesse a viagem. Não havia como atender aquele seu pedido. Talvez por isso tivesse trocado telefone com o Regra 3. Era assim que chamava o ex, atual amante.

Com ele não há conflitos, as regras são simples e claras - ela liga, marcam o encontro, ela passa para buscá-lo, vão a um motel, transam alucinadamente, gozam muitas vezes, tomam um banho, ela paga a conta e o leva de volta. E vida que segue.

As deliciosas tardes que passam juntos a fazem pensar no namorado - "por que ele complica tanto?"- e no marido - "por que eu faço isso? Ele não merece." E ela sabe, lá bem no fundo, que não é essa a questão. É uma questão de poder. "Eu faço isso porque posso, porque sei como, porque entendo as regras. Faço porque sou um homem. E homens precisam disso."

A estrada passa rapidamente pela janela do carro. Logo estará de volta em casa. Beijará os filhos, o marido, jantarão todos juntos, conversarão sobre o dia - e ela sabe que vai sorrir antes de começar a contar-lhes sobre seu trabalho. E mais tarde vai fazer amor com o marido, e vai chorar no travesseiro, com saudades do namorado, a quem ama de verdade. Mas antes de fechar seus olhos para dormir, vai agradecer aos deuses. Pelo Regra 3.

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