quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Confissão

Acordei de um sono sem sonhos, agitado pelas preocupações que não me pertencem.

Em algum momento da noite, senti teu cheiro bem próximos às minhas narinas, e foi insano, como se você estivesse realmente aqui. Já não está. Tenho a sensação de que teus olhos me estão fitando, de que, se de repente abrir os meus, você vai estar a centímetros de distância, me olhando e fazendo beiçinho, carinha de pidão... E fico até com medo de me acordar totalmente.

Já é dia. A porta da manhã se escancara sobre mim, inevitável, e eu preciso ir. Tenho uma longa jornada pela frente. A água fria do chuveiro ajuda as células a despertar, a acompanhar a consciência - esta, desperta há horas. O sabonete deslizando pela minha pele, seu perfume insistente tentando roubar o teu cheiro de mim. Resisto, mas dura pouco, e de certa maneira agradeço à espuma macia, ao perfume de figos e cupuaçu, por me libertarem da sensação do teu toque, do cheiro do teu corpo - mesmo que somente durante os breves minutos que dura o banho.

Vou trabalhar, ainda preocupada. Onde andas? Como estás? Para cada pensamento uma sentença definitiva: "você sabe que isso não te cabe..." Que me importa? É só no que penso hoje, enquanto me movo através do dia como um avatar que, num videogame manjado, pula todos os perigos e pega todos os prêmios - mas já nem te emociona.

Talvez porque hoje não haja motivo. Sinto o teu cansaço, sinto a tua tristeza, eles me encantam e ferem igualmente, e eu quero tanto te tocar, te consolar, e é como se estivesse presa em uma redoma de vidro temperado, de onde não consigo escapar, de onde minha voz gritada não pode chegar aos teus ouvidos. E você se afasta, e eu grito, e canto, e choro, e chamo: "me espera, eu tenho uma confissão a fazer!" E você se vai...

Eu sei - that's just the way it is... Mas eu quero confessar o inconfessável. A confissão ficou retida pela redoma. Um dia, um dia sem pressa, eu vou fazê-la ao pé do teu ouvido. O teu mundo vai tremer um bocadinho, como um pequeno abalo sísmico daqueles que nem é percebido pelas pessoas, e marca 0,5 na escala Richter. As tuas placas tectônicas vão se acomodar em torno do teu coração, da tua mente - e você seguirá adiante, o pedaço do meu coração preso entre os dentes balançando displicentemente sendo levado como um troféu. Inabalável.

E o mel que escorre dos meus lábios, espesso e cristalizado, a luz que transborda de meus olhos, quente e brilhante - a minha dádiva - são o que de mim ficará intacto na tua lembrança.

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