sábado, 10 de outubro de 2009

Funny

Esse era seu nome de batismo. Sua mãe adorava um filme antigo, com o Frank Sinatra, em que ele cantava uma música com esse nome. Ela obviamente não entendia patavina de inglês.

Ela era esquisita, do jeitinho que a música descrevia a criatura!

Se a pobre da mãe soubesse, será que teria cometido o deslize? Talvez - como ela poderia dizer? O fato é que, para todos os efeitos, os adjetivos elogiosos que recebia nunca referiam-se a seus predicados femininos. Era sempre a inteligente, esperta, dinâmica, capaz, engraçada, espirituosa. Tinha personalidade.

E um nariz aquilino. Era baixinha, tinha escoliose - e usava um aparelho ortopédico. Desajeitada. Seus olhos grandes eram expressivos, verdade - mas um pouco estrábicos. Lábios muitos finos - e dentes muito grandes, que pareciam não caber-lhe na boca. Era realmente Funny. Em tudo.

Aprendera desde muito nova que precisaria destacar-se de alguma maneira, ou seria motivo de chacota toda sua vida. Mas não recolhera-se, e jamais se escondia. Estava viva, e deixaria sua marca na história. Sempre desejara notoriedade. Passar em brancas nuvens? Não ela. Tinha uma faísca em si. E atearia fogo ao mundo.

Sempre tivera inteligência acima da média. E preferia um décimo de sua inteligência a toda a beleza do mundo. Pelo menos era o que dizia a si mesma, no escuro de seu quarto, enquanto crescia desprezada por todos os meninos por quem se apaixonou. Sua adolescência parecia arrastar-se, mas ela não se abalava: deixaria sua marca no mundo.

Dedicava seu tempo aos livros, sua educação era importantíssima para ela. Tinha facilidade para aprender, e gostava de estudar. Muito cedo demonstrou aptidão para a vida acadêmica. Traçou planos e soube segui-los à risca. Com 17 anos já era uma universitária. E continuava virgem...

Mas por pouco tempo. Ali, no Campus, descobriu a verdade sobre os homens. Eles são cruéis. E decidiu que seria mais cruel que eles. Funcionou. E, mesmo sendo a mesma Funny de sempre, conseguiu de cada um deles o que queria. Sexo, paixão ou luxúria? Ela não saberia dizer. Mas nunca perdera tempo - precioso tempo - de sua vida cismando a esse respeito. Estava ali para deixar sua marca no mundo. E não se importava com relacionamentos.

Em seu segundo ano já havia publicado artigos nas melhores revistas de sua área. Freqüentava congressos e apresentava seus trabalhos oralmente. Era muito bem recebida por seus pares, e o orientador não poderia estar mais satisfeito. Êxito. Ela era um êxito. Não permitiria que nada atrapalhasse sua trajetória, tão planejada e bem executada. So far, so good.

Um comentário:

Patrícia Siciliano disse...

Olá, Silvana - e bem vinda. Prometo que irei até você, em breve. Muito obrigada pelo elogio, e fique à vontade. Um beijo.

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