sábado, 12 de setembro de 2009

Swimming pool

"É em seu toque que penso quando caio n'água. Não há outro motivo para entrar numa piscina." Sentia como se as mãos dele passeassem por todo seu corpo, trazendo à tona um desejo sepultado sob toneladas de ressentimento crônico - e anacrônico.

Sempre adorara nadar, tinha sido um peixinho quando menina, até fizera parte da equipe de natação da escola - medalhista, embora nunca recordista. Tinha preguiça. E achava o exercício, a rotina de treinos e a renúncia aos momentos de ócio uma pena capital. Sua vida até os desessete anos fora uma escravidão à piscina do clube e, quando fez dezoito disse ao pai que era maior de idade e não iria nadar mais. Decidira. Mas era mentira.

Não treinava mais, de fato, nem tinha compromisso com o esporte. E isso transformou a natação num amante muito desejado... Ela fugia para o clube sempre que tinha um tempinho, entre uma aula e outra na universidade caía na piscina do campus, nadava no mar. Sentia finalmente prazer na atividade, antes suportada com tanta dificuldade.

Mas agora tudo era diferente. Sua vida mudara mais uma vez. Estava apaixonada - mas ele nunca seria seu. Era um homem casado. Tinha esposa e filhos, e as responsabilidades da vida adulta. E não daria as costas àquela vida por ela. Na verdade, ela nem entendia exatamente como se deixara envolver por ele.

Era o salva-vidas da piscina do clube. Lindo corpo, rosto duro e marcado. Parecia ter uns quarenta e poucos anos. Sorria e uma fogueira se acendia em seu corpo. Ela tinha um tesão inacreditável pelo cara, e suas amigas diziam sempre que ela dava muita bandeira. Ela não se importava. Até preferia que ele soubesse o que provocava nela. Talvez assim ele resolvesse se manifestar e aquela tortura se acabaria. E de fato, sua estratégia revelara-se infalível.

Um dia ela foi ao clube no último horário disponível. Era a única pessoa no parque aquático. Ela e o salva-vidas.

-"Você pode ir, se quiser." - disse a ele. "Sou uma nadadora experiente, não vou me afogar."
-'Excesso de autoconfiança também mata." - ele disse, e sorriu. "Mas se você prefere que eu vá embora..."
- "Não é isso. É que você não precisa ficar só por minha causa..."
- "É por sua causa mesmo que eu fico. Sempre."

E então ele fez o inimaginável: caiu na água e nadou até ela. Não disse palavra - era mesmo desnecessário. Tocou seu rosto de leve, acariciou a curva do queixo, e puxou-a para perto com o outro braço envolvendo sua cintura. O beijo, o toque, o corpo contra o dela... Era hoje uma lembrança tão vaga! Ela tentava não pensar, sacudia a cabeça - mas era inútil. Seus pensamentos a levavam até aquele lugar no espaço-tempo, e ela não conseguia mais dissociar a água da piscina do toque dele.

Deixava-se então deslizar pela água, seus sentidos atentos aos dedos dele, percorrendo cada centímetro da sua pele acesa, seus pêlos eriçados, sua respiração ofegante - mas era só a água. Ela sentia que nunca mais ele faria aquilo. Nunca mais seu corpo, nunca mais o gozo delirante dentro da piscina. Nunca mais aquele momento se repetiria. E, por menos que desejasse, ela acabava revivendo tudo aquilo - por causa da água. Era ele o amante que ela buscava. E ele estava ali. E olhava para ela. Roubava beijos no corredor para os vestiários, roçava as costas da mão em sua coxa, simulando um toque acidental, tentava seu juízo de várias maneiras. Mas... nunca mais.

Ela desistira de aparecer tarde, no último horário. Ela tentava ser óbvia - e isso feria ainda mais seu orgulho feminino. Sentia que ele não a desejava mais. Pensava que era uma trepada horrível, que não valia a pena nem o risco para ele. E sentia-se um lixo por isso.

Seu namorado era louco por ela. Não dava sossego, a queria a todo momento, sempre que estavam sozinhos. Dizia que ela era incrível, que nunca tinha sentido tanto tesão por mulher nenhuma. Nada disso fazia que se sentisse melhor. Desejava outros braços, outro corpo, o peso de outro homem sobre ela. O desejo de outro homem por ela. Seu namoro tinha os dias contados.

E de nada adiantaria... Ela estava perdida. E só lhe restara a água.

E a recordação.



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