Poucas mães como ela ali àquela hora da manhã, a maioria babás acompanhando as crianças de suas patroas. Num dia comum de semana, as mulheres de sua idade já estavam em seus trabalhos, talvez tomando a décima decisão do dia junto da terceira xícara de capuccino. Ela achava tudo engraçado e distante, como se estivesse assistindo aquela sucessão de cenas da escotilha de um ônibus espacial, mas sabia que era ao mesmo tempo parte da paisagem que apreciava calada. Levantou-se a caminhou devagar em direção ao do meio, sem distrair-se do caçula, que gargalhava no tanque de areia, espalhando brinquedos e terra molhada com seus movimentos desconexos. Ela olhava para o pequeno e sorria, enquanto seus passos a aproximavam no reflexo de si mesma sentado ali, sob o Sol da manhã, os olhos marejados observando sua aproximação.
Dos três filhos, ele foi o único que herdou sua melancolia, sua tendência para o drama, sua sensibilidade extrema. Ela preferia que nenhum deles fosse frágil como ela, que nenhum de seus filhos precisasse passar pela vida carregando o peso do mundo nas costas. Mas de algumas coisas não se pode fugir. Era ele o seu espelho, o filho com que mais se identificava - e ela o amava e lamentava por ele na mesma medida.
Pelo menos sempre saberia como lidar com aquilo. Sabia que não havia palavras de consolo suficientemente boas em situações como aquela. E sabia que morreria por um abraço silencioso. Sentou-se ao seu lado, estendeu seus braços em sua direção e permitiu que ele se aconchegasse em seu regaço, a cabeça virada para o lado direito, evitando seus olhos e posicionando a orelha sobre seu coração. Cada batimento cardíaco era um mantra de aceitação e amor. Era só do que ele precisava.
E ela sabia.
No futuro, quando se lembrasse dela, seus olhos interiores a veriam como a única pessoa no mundo capaz de entendê-lo completamente. A única que saberia ouvir suas conversas e histórias com total aceitação, sem nenhum traço perceptível de paternalismo ou afetação. Seus irmãos pensavam que conheciam a mãe. Ele sabia que ambos estavam errados. Ela era somente dele, sua totalidade em cada gesto banal do cotidiano transbordando um amor irretocável, seu perfume indelével e as cores da sua aura. Ninguém jamais soubera a sua mãe como ele.
E ela também sabia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário