segunda-feira, 29 de junho de 2009

Oportunidades (parte 1)

Ela saiu de casa ainda cedo. O dia mal se insinuara por entre as montanhas, seus pés ligeiros buscaram a liberdade da estrada, da vida ao ar livre. Não era uma fugitiva - ela amava sua casa e sua família, e jamais abriria mão de ser parte dela. Mas dentro de si havia a necessidade de um momento para chamar de seu. E seria hoje!

Percorreu a distância significativa entre a porta da frente e o portão do jardim, temerosa por ser apanhada. Mas alguns passos... O portão rangia muito, e ela, muito esperta, o havia lubrificado na véspera. "Sim, nenhum ruído!" Seus olhos não se contiveram, e deixaram rolar duas lágrimas. "Pronto, acabou-se a tensão!" E apressou-se em ganhar o mundo.

Tinha desessete anos, era a filha do meio numa família de cinco. E para completar era a única mulher. Mãe doente, irmãos caçulas, casa, cozinha, afazeres domésticos - tudo sua responsabilidade. Não era coisa para homem, com toda certeza, fazer comida ou lavar as roupas. Hoje seria. Nunca se vira um homem dar banho em uma criança, ou dar comida na boca de um doente. Hoje se veria!

Corria livre e feliz pela campina que cercava a casa de seu pai. Conhecia cada centímetro do terreno - passou ali todos e cada um dos dias de sua vida.

Neste dia decidiu que veria a cidade. Precisava saber como era! Todos já tinham ido até lá - por que só ela não podia? Quando era pequena, sua mãe lhe dizia que esse era o motivo. E, quando levaram Leonardo pela primeira vez com eles, junto com Bernardo e Ernane, os irmãos mais velhos, sua mãe lhe dissera que deveria ficar e cuidar de Antônio para ela - este, o caçula. Começou a perceber a realidade por trás daquilo tudo: Eles não queriam que ela fosse à cidade. Nunca. O que lhe escapava era o por quê - e era isso que queria descobrir.

O que de tão incrível, ou terrível, a cidade encerrava? Quantas e tantas novidades haveria lá para ela? Ela queria correr para chegar logo até lá. Mas de alguma maneira indelével o medo que lhe fora semeado no coração germinou uma linda planta, enraizada profundamente. E a uma determinada altura do caminho, Alzira percebeu que não mais conseguia andar. Nem mais um passo.

Temores inexplicáveis dominaram a menina. E de repente, aquele dia planejado e arquitetado por dois meses tornara-se um problema. Àquela hora da manhã - o Sol já ia alto no céu - todos já teriam percebido sua ausência, e se chegasse em casa seria decerto castigada. E ai estava o dilema: ser castigada por meia travessura, ou por travessura e meia?

Estava ainda perdida nessas divagações quando ouviu passos. Pessoas se aproximavam dali. Era melhor esconder-se para descobrir quem eram, e para onde iam. Quem sabe não seriam bons companheiros de caminho?

Vinha na frente uma mulher, alta e esguia - tão diferente dela própria e sua mãe! Tinha cabelos bem negros e pele oliva, e sua voz de veludo foi a primeira que ouviu fora dos limites de sua casa.

-"Ande logo, Manoel, não vê que temos pressa?"
-"Desculpe Mamãe! Já chego!" - ressoou por detrás dela uma voz de trovão.

O rapaz talvez tivesse a idade de Bernardo - o irmão imediatamente acima dela. Alto e forte, seus cabelos da cor dos de sua mãe, mas a pele clara. "Deve ter puxado a seu pai"- ela pensou. Nunca vira outras pessoas na vida! Pareceram tão interessantes e especiais para ela... "Com certeza uma senhora muito elegante... O rapaz... bem, não saberia dizer". Enquanto pensava nessas coisas percebeu que se afastavam, e sentiu medo de novo - "se eles forem embora, a quem pedirei ajuda?". Arriscou-se:

- "Bom dia, distinta senhora. Cavalheiro." Os dois olhavam incrédulos. De onde aquela menina?

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